Sandro Fernandes - Enviado especial ao Cairo – Opera Mundi – Foto EFE
Aeroporto Internacional Ataturk, Istambul. Sábado, quatro da tarde, porta de embarque 212. Destino: Cairo. O Egito das pirâmides e das hordas de turistas tirando fotos com camelos no deserto se transformou no Egito do levantamento popular. Um voo sem turistas, algo inimaginável há menos de um ano.
No avião, meu assento parece ter sido estrategicamente escolhido, entre um egípcio que mora nos Estados Unidos e um norte-americano que mora no Egito. Saco meu bloco de notas, alguns jornais e começo a rabiscar algumas palavras. "Você esta indo ao Egito por causa das eleições?", pergunta o norte-americano. "Sim, sim", respondo, acreditando que ele havia notado minha profissão. "E em quem você vai votar?", continua o curioso yankee. Minhas feições levaram-no a pensar que eu era egípcio. "Ótimo", pensei. "Serei somente mais um no meio da multidão.
Sem mais rodeios, o assunto cai diretamente na revolução, pós-revolucao, segunda revolução, como quiserem chamar. No fim-de-semana que antecede as primeiras eleições parlamentares do Egito, marcadas para esta segunda-feira (28/11), o assunto é o mesmo em todas as conversas. Um casal fala sobre a Irmandade Muçulmana, alguns jovens criticam as Forças Armadas, um senhor comenta a influência dos Estados Unidos na política interna do país. Não há como ficar indiferente. Todas as falas são carregas de emoção e gestos.
Duas horas de voo e desembarcamos no Cairo. Encontro meu amigo egípcio, Sheriff, que quer me acompanhar à famosa Praça Tahrir. Ele trabalha em um banco, é copta (minoria cristã) e acaba de pedir o visto de imigração no Consulado do Canadá. "Não quero ficar no Egito. Antes tínhamos estabilidade com o regime autoritário. Agora, ninguém sabe o que pode acontecer amanhã, especialmente para os que não concordam com um regime islâmico no país", confessa.
Entramos em um ônibus local rumo a Tahrir. Enquanto conversávamos, dois passageiros começam a discutir, aos gritos, com dedo em riste e em tom de ameaça. Uma mulher intervém e a discussão fica ainda mais calorosa. "Não se preocupe. Eles estão falando sobre as eleições", explica Sheriff.
A viagem de 45 minutos pelas esburacadas e mal-iluminadas ruas do Cairo de tornou um circo político, em um debate que, se fosse televisionado, deixaria atônito qualquer telespectador desavisado. Cada pessoa que entra fala sua opinião, ou se queixa sobre a atual situação do país.
No trajeto até Tahrir, percebo que tudo permanece igual: os mercados de rua estão abertos por todos os lados e o trânsito segue caótico. Ligo para outro amigo, muçulmano, médico e professor da Universidade do Cairo: "Já estou no Cairo. Onde voce está?. "No bar de sempre, fumando meu narguille e tomando chá", responde Saleh.
“A vida não mudou para os não-revolucionários – a maioria. O que mudou foi a apreensão do que acontece no entorno. A maioria da população não foi a Tahrir por medo ou preguiça, mas todos estão discutindo o presente e o futuro do país. Já não nos interessa mais falar sobre futebol. Todos somos um pouco analistas políticos e temos uma opinião. E tudo isso é novo para a gente", explica Sheriff. "Até janeiro, todos achávamos que [Hosni] Mubarak ficaria no poder para sempre. De repente, temos a possibilidade de mudar a história".
Chegando a Tahrir
A viagem de 45 minutos pelas esburacadas e mal-iluminadas ruas do Cairo de tornou um circo político, em um debate que, se fosse televisionado, deixaria atônito qualquer telespectador desavisado. Cada pessoa que entra fala sua opinião, ou se queixa sobre a atual situação do país.
No trajeto até Tahrir, percebo que tudo permanece igual: os mercados de rua estão abertos por todos os lados e o trânsito segue caótico. Ligo para outro amigo, muçulmano, médico e professor da Universidade do Cairo: "Já estou no Cairo. Onde voce está?. "No bar de sempre, fumando meu narguille e tomando chá", responde Saleh.
“A vida não mudou para os não-revolucionários – a maioria. O que mudou foi a apreensão do que acontece no entorno. A maioria da população não foi a Tahrir por medo ou preguiça, mas todos estão discutindo o presente e o futuro do país. Já não nos interessa mais falar sobre futebol. Todos somos um pouco analistas políticos e temos uma opinião. E tudo isso é novo para a gente", explica Sheriff. "Até janeiro, todos achávamos que [Hosni] Mubarak ficaria no poder para sempre. De repente, temos a possibilidade de mudar a história".
Chegando a Tahrir
Dez da noite. Chegamos ao centro da cidade. Conforme nos aproximamos da Praça Tahrir, a concentração de pessoas lembra a saída de um jogo de futebol. Câmeras de televisão por todos os lados e pessoas chegando para se concentrar na mítica praça. Tahrir se transformou no coração do Egito e fervilha de histórias e ideias.
Agora, há um cordão de isolamento num raio de um quilômetro da praça e um controle de segurança, que checa a identidade das pessoas. Postos de primeiros-socorros abrigam os feridos durante os embates. E são muitos os feridos. Centenas de pessoas continuam acampadas, esperando o dia das eleições. Alguns cozinham em fornos improvisados. Quando descobrem que sou brasileiro, me convidam para comer peixe e tomar chá. "Ao Egito!", sorri um dos jovens, levantando seu copo.
O Museu Nacional do Egito, ao fundo, com seus tesouros e divindades, continua protegendo os manifestantes. Ao lado dele, jaze a sede do Partido Democrático Nacional de Mubarak, queimada pelos manifestantes no inicio do ano e ainda testemunha da Primavera Árabe.
Na praça, jovens entoam por todos os lados músicas de protesto. Diferentes ideologias políticas estão juntas, todas contra a ação violenta das Forças Armadas nas ruas do país. "Tantawi (líder das Forças Armadas) é um animal e está a serviço dos Estados Unidos. O poder no Egito vem da praça (Tahrir)", canta e repete incansavelmente um grupo de jovens.
Uma da manhã. Resolvo voltar ao hotel, que fica perto da praça. Ligo a TV e descubro que um canal independente CBC2 emite 24h por dia imagens do Parlamento e de Tahrir. Mudo de canal e analistas discutem as eleições. "Se cancelarem as eleições de segunda-feira, os manifestantes vão queimar o país", decreta um dos comentaristas. O Cairo dorme mais uma noite de revolução.
Uma da manhã. Resolvo voltar ao hotel, que fica perto da praça. Ligo a TV e descubro que um canal independente CBC2 emite 24h por dia imagens do Parlamento e de Tahrir. Mudo de canal e analistas discutem as eleições. "Se cancelarem as eleições de segunda-feira, os manifestantes vão queimar o país", decreta um dos comentaristas. O Cairo dorme mais uma noite de revolução.
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1 comentário:
quem avisa amigo é: A IRMANDADE MUÇULMANA VAI EXTERMINAR TODOS OS COMUNISTAS DO EGITO !!!!
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