domingo, 27 de novembro de 2011

Moçambique: OS HOSPEDEIROS DA PRIMEIRA-DAMA




PEDRO NANCUO – NOTÍCIAS, opinião, em Dizer por Dizer

A PRIMEIRA-DAMA, Maria da Luz Guebuza, tem gostado nos últimos dias de visitar zonas recônditas, entre aldeias e povoações, de facto lá onde está o nosso povo.

Quem com ela viaja deve preparar-se para ir às origens, lá donde a maioria de nós viemos.

Mais essa coisa de ser Primeira-dama encerra muitos cuidados e as administrações locais desdobram-se em requintes de toda a ordem, desde a quantidade supérflua invulgar dos seus acompanhantes ao melhoramento das condições físicas do trajecto que o roteiro vai cumprir.

Desta vez, aqui em Cabo Delgado, ela quis alojar-se em casas de líderes tradicionais (escolhidos, claro) das aldeias aonde pernoitou. Tal implicou o melhoramento das respectivas casas e a aquisição de alguns bens, sobretudo móveis, para equipá-las.

Havia mais de três meses que se sabia quem eram os líderes acolhedores da Primeira-dama, em suas casas, o que provocou inveja, logo à partida, por parte dos não preferidos.

Aliás, uma placa para cada uma das casas anunciava o facto de ter acolhido a Primeira-dama, que foi preparada para ser descerrada assim que ela chegasse.

Em Msemuco, uma aldeia do distrito de Meluco, havia que inaugurar uma escolinha, equipada com um parque infantil. Era suposto que fossem deixadas algumas bolas, incluindo da modalidade de basquetebol.

Estava no programa e as bolas vieram, mas os acompanhantes da ilustre hóspede só se aperceberam ali, que não havia condições para a prática da modalidade.

Voltaram a pôr no saco aos olhos de todos e cá atrás os aldeões manifestaram-se. Contra quem, ninguém sabe, mas a zanga ficou.

Na verdade, quem não se acabou aborrecendo com isso terá sido o líder de Metoro. Não se sabe se a sua pouca insatisfação durará muito tempo.

Aqui, porque a despeito de toda a preparação visando receber a Primeira-dama, incluindo o melhoramento da sua casa e a aquisição dos bens móveis atrás referidos, ela não passou por lá.

É que, os líderes acolhedores, depois da visita, foram despojados da maioria dos bens que temporariamente as suas casas sustentavam. Ficaram com a placa, o mastro e a bandeira.

Cada vez que olham para esses símbolos, enervam-se. Os bens móveis foram retirados. Por quem? Autoridades distritais.

Para onde? Não se sabe! Mas em Meluco a coisa não foi para menos, pois no mesmo dia em que a Primeira-dama saiu da casa do líder tradicional este acabou ficando detido, porque rebelou-se ante a pretensão das autoridades de o retirarem os bens.

Não aceitou e perante a sua impotência encontrou os bens não móveis que para si eram significantes, como vítimas: o mastro, a bandeira e destruiu-os para nunca mais se lembrar da visita. É aqui onde colidiu com as autoridades.

Assim (por culpa de quem!) a visita deixou para trás um rasto de insatisfação de quem é líder de grupos, de personalidades influentes, talvez menos das autoridades administrativas.

Nestes casos, há quem diz, quiçá, por dizer, que há visitas que provocam problemas desnecessários, que valeria a pena que não se realizassem.

Também digo, mas apenas por dizer.

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