DEUTSCHE WELLE
Um ataque aéreo da Otan a posto fronteiriço no Paquistão matou mais de 20 e deixou quase 30 feridos, segundo governo paquistanês. Incidente pode levar ainda mais tensão à relação entre Washington e Islamabad.
Um ataque aéreo da Otan a um posto fronteiriço no noroeste do Paquistão matou neste sábado (26/11) pelo menos 24 pessoas e deixou quase 30 feridos, segundo autoridades de segurança do Paquistão, embora fontes extraoficiais tenham informado haver mais mortes. O incidente levou as autoridades paquistanesas a fecharem uma rota que passa pelo local, utilizada para escoamento de suprimentos e combustíveis pelas tropas da Otan estacionadas no Afeganistão.
O ataque, ocorrido numa região do noroeste do Paquistão, é o incidente mais grave desde que os governos em Washington e Islamabad fecharam em 2001 uma aliança contra o terrorismo. E ocorre pouco mais de uma semana antes de uma conferência sobre o Afeganistão agendada para ocorrer em Bonn, na Alemanha. No evento, serão discutidas perspectivas para a região após a retirada das tropas ocidentais, prevista para o fim de 2014.
Fronteiras foram fechadas
Após o ataque, as autoridades paquistanesas fecharam a fronteira para o transporte de suprimentos da Otan para o Afeganistão, tanto pelo distrito de Khyber Agency como pela região de Baluchistan.
A Otan confirmou que houve um confronto com forças paquistanesas em um posto fronteiriço, sem dar mais detalhes. "Estamos conscientes de que um incidente ocorreu na região de fronteira", disse o major Brian Badura, porta-voz da Força Internacional de Assistência para Segurança (Isaf). "No momento, estamos reunindo informações e investigando o ocorrido", afirmou.
O comandante das tropas da Otan no Afeganistão, o norte-americano John Allen, expressou seu comprometimento em "investigar exatamente o que aconteceu e esclarecer os fatos."
“Muito provável”
Um porta-voz da Isaf reconheceu ser "muito provável" que aeronaves da Otan tenham provocado a morte de soldados paquistaneses em um ataque letal. O general de brigada Carsten Jacobson disse que as forças da Isaf e do Exército afegão estavam realizando uma operação conjunta na parte oriental da província afegã de Kunar, que faz fronteira com o Paquistão, quando foram forçados a recorrer a apoio aéreo."É muito provável que este apoio aéreo, chamado pelas forças de terra, tenham causado essas mortes ", afirmou o militar à agência AFP.
Indignação
As autoridades paquistanesas, por sua vez, expressaram a sua indignação, observando que o ataque dos helicópteros da Otan ocorreu sem ter havido provocação prévia. "Este é um ataque à soberania do Paquistão e não podemos mais tolerar esses ataques", declarou o governador da província, Masood Kausar, que lidera o governo civil em sete distritos tribais.
Um porta-voz militar paquistanês falou de 24 soldados "mártires" e 13 feridos. No entanto, um oficial das guardas de fronteira paramilitares de Peshawar, a capital da província de Kyber-Pakhtunkhwa, falou de mais dois mortos e 23 feridos.
"As tropas paquistanesas responderam imediatamente em defesa própria à agressão da Otan / Isaf com todas as armas disponíveis", consta de um comunicado militar. O chefe de Estado Maior, o general Ashfaq Parvez Kayani, elogiou a reação paquistanesa.
O embaixador dos EUA em Islamabad, Cameron Munter, foi convocado pelo primeiro-ministro paquistanês, Yousuf Raza Gilani, que expressou um protesto contundente sobre o ataque, de acordo com o Ministério do Exterior do país. Islamabad protestou em Washington e na sede da aliança militar em Bruxelas.
Relações tensas
O incidente deverá tornar ainda mais tensas relações entre Estados Unidos e Paquistão, que já são abaladas desde a controversa operação em maio passado em Abbottabad, a noroeste do país, que terminou com a morte do líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, realizada sem autorização ou conhecimento prévio paquistanês.
A base paquistanesa afetada, Salala, está em uma área usada como esconderijo pelos talibãs radicais. Segundo círculos de segurança paquistaneses, os extremistas utilizam a rota para se infiltrarem no Afeganistão.
MD/dpa/rtr/afp - Revisão: Soraia Vilela
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