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Díli, 11 nov (Lusa) - O deputado timorense Mário Carrascalão, governador da Indonésia em Timor-Leste em 1991, afirmou à agência Lusa que "o verdadeiro massacre" de 12 de novembro, há 20 anos, foi feito no antigo hospital militar de Díli e em Tíbar, perto da capital.
"O verdadeiro massacre é feito no hospital e em Tíbar. Quando houve o apagão em Díli passaram as camionetas com os jovens. Eles fizeram de facto uma grande limpeza, disso não há dúvidas. Eu na altura disse 'não vale a pena estarem com coisas, porque vão aparecer ainda mais que esses'", afirmou Mário Carrascalão, governador da Indonésia para Timor-Leste entre 1983 e 1992.
Segundo o atual deputado e ex-vice-primeiro-ministro timorense do governo chefiado por Xanana Gusmão, camiões saíram de Díli em direção a Tíbar, nos arredores da capital timorense, onde terão sido enterradas várias pessoas.
"Dia 13, eram dez ou onze da noite, quando as luzes de Díli se apagaram, o que era uma coisa muito rara, apagaram-se completamente as luzes todas de Díli e passaram uns camiões saídos do hospital a caminho de Tíbar", recorda.
"Uma semana depois recebi uma informação que dizia que aquela zona estava muito mal cheirosa porque os cães estavam a desenterrar cadáveres. Essas covas que eles fizeram para enterrar esses jovens que levavam nas camionetas eram junto da lixeira", explicou Mário Carrascalão.
Do hospital militar (antigo hospital António Carvalho, no período colonial), onde só foi autorizado a entrar no dia 15, Mário Carrascalão disse ter recebido um telefonema de um médico indonésio a pedir para intervir.
"Recebi um telefonema de um médico indonésio que trabalhava no hospital António Carvalho e que me disse que eu tinha que fazer qualquer coisa porque eles estavam a meter gente dentro do frigorífico ainda viva e estavam a injetar água. Não consegui ter autorização para lá ir. Só consegui autorização no dia 15", lembra.
O antigo governador disse também que o militar indonésio morto durante a manifestação foi esfaqueada por um indivíduo dos serviços secretos de Jacarta com o objetivo de provocar a intervenção dos militares.
"Dentro daquele grupo de manifestantes havia indivíduos [pró-integração] que levavam duas camisolas. Quando começa o tiroteio eles começam a tirar uma das camisolas para se identificarem, só que não houve tempo de eles escaparem e alguns morreram", disse.
A 12 de novembro de 1991 mais de duas mil pessoas reuniram-se numa marcha até ao cemitério de Santa Cruz, em Díli, para prestarem homenagem ao jovem Sebastião Gomes, morto em outubro desse ano por elementos ligados às forças indonésias.
No cemitério, militares indonésias abriram fogo sobre a multidão. Segundo números do Comité 12 de Novembro, 2261 pessoas participaram na manifestação, 74 foram identificadas como tendo morrido no local e 127 morreram nos dias seguintes no hospital militar ou em resultado da perseguição das forças ocupantes.
A maior parte dos corpos continua em parte incerta.
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