António Marujo - Público
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) diz que “a política internacional não pode reduzir-se, nem muito menos submeter-se, a obscuros jogos de capital que fariam desaparecer a própria democracia”.
Numa mensagem dirigida a todos os concidadãos e também aos imigrantes, no final da assembleia plenária, os bispos dizem que “o capital provém do trabalho que, realizando a pessoa humana, mantém prioridade absoluta”.
Os bispos recordam alguns dos factores que estiveram na origem da crise, no que a Portugal diz respeito: “Excessiva especulação financeira e pouca consistência económica somaram-se negativamente e tanto nos enfraqueceram internamente como nos prejudicaram internacionalmente. Alimentámos, ou alimentaram-nos, aspirações que agora são impossíveis de concretizar. Falha hoje a própria base material em que tudo o mais se sustenta, ou seja, uma vida económica saudável e suficientemente apoiada pelo investimento e pelo crédito, que garanta trabalho digno para todos: trabalho que é condição indispensável para o sustento e a realização das pessoas e das famílias.”
Na curta mensagem de uma página, a CEP aponta depois o que diz ser “mais próprio” da Igreja Católica. O texto cita a “solidariedade activa” exercida diariamente pelas instituições sociais católicas, em colaboração com tudo o que se faça em ordem ao bem comum e que “não deixe ninguém em condições desumanas”.
Os bispos insistem também em “valores e princípios fundamentais da doutrina social da Igreja” como sejam a dignidade da pessoa humana, o bem comum, a subsidiariedade e a solidariedade. Estes são valores que não se deveriam esquecer nunca, acrescentam.
Na conferência de imprensa final, o patriarca de Lisboa e presidente da CEP, D. José Policarpo, comentou que vivemos “num sistema neoliberal” e que foi dentro do sistema que o país beneficiou de “benesses” e de empréstimos.
“Tenho um grande desejo”, disse o cardeal: “Que a crise traga qualquer coisa de novo” e que provoque mudanças nas relações entre estados ou entre as finanças e a economia. E acrescentou que as grandes crises são ocasiões de arregaçar as mangas e trabalhar em busca de soluções.
Sobre o papel da Igreja, o patriarca diz que ela é um “lugar de acolhimento e de partilha”. A Igreja “não tem dinheiro para distribuir”, afirma, nem age “como potentado económico”. “A nossa força é a da partilha, do altruísmo e da caridade fraterna”, acrescentou.
O cardeal Policarpo disse ainda que “o país real não rejeita as medidas” que estão a ser tomadas para combater a crise. E há “muita gente que diz ‘somos capazes’”.
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