Portugal – Face Oculta: Ministério Público mostra fotos de Godinho a oferecer dois Mercedes

Sala de audiências do Tribunal de Aveiro onde teve início o julgamento Face Oculta - foto RICARDO ESTUDANTE/GLOBAL IMAGENS

NUNO MIGUEL MAIA – JORNAL DE NOTÍCIAS

O julgamento do processo Face Oculta arrancou, esta terça-feira de manhã, no Tribunal de Aveiro, com exposições introdutórias dos vários intervenientes processuais. O procurador do Ministério Público surpreendeu ao exibir imagens da entrega de dois Mercedes, por parte do empresário das sucatas Manuel Godinho

O procurador do Ministério Público, João Marques Vidal, exibiu uma apresentação de slides em que até mostrou fotos da PJ de Aveiro que documentaram a entrega de dois Mercedes, por parte do empresário das sucatas Manuel Godinho, ao administrador da EDP-Imobiliária Paiva Nunes e António Paulo Costa, quadro da Galp.

A iniciativa do magistrado - que incluiu o resumo da acusação e crimes em julgamento por cada arguido, descrevendo com pormenor a "associação criminosa" liderada por Manuel Godinho - mereceu várias críticas por parte dos advogados, principalmente por não ter usado expressões como "alegadamente" ou presumivelmente".

"Não disse uma única vez: 'Proponho-me provar que...' Dá tudo como adquirido!", censurou o advogado do principal arguido, Artur Marques.

Tiago Rodrigues Bastos, defensor de Armando Vara, insurgiu-se contra o facto de Raul Cordeiro, presidente do colectivo de juízes, ter remetido para o acórdão final a decisão sobre duas questões que, na sua óptica, evitariam o julgamento do ex-ministro e ex-vice-presidente do Millennium-bcp.

"A EDP-Imobiliária é uma entidade pública? E o arguido Paiva Nunes é funcionário? São questões meramente técnicas, que nada têm a ver com factos, cuja resolução daqui a uns meses podem revelar ser inócuo estarmos aqui", argumentou.

Rui Patrício, advogado do ex-presidente da REN, José Penedos, realçou ser "rídículo" pensar-se que o cliente "mercadejou o seu cargo por causa de prendas no Natal". E insurgiu-se contra a utilização e interpretação de escutas, classificando a acusação como um "romance de telefonista".

A exibição, em "powerpoint", do procurador do Ministério Público incluiu diagramas de relações entre arguidos e o organigrama da associação criminosa em julgamento, relatando ainda as técnicas de suborno detectadas pela Polícia Judiciária de Aveiro: dinheiro vivo, cheques, prendas e carros.

As fotos exibidas de Paiva Nunes (Mercedes no valor de 50 mil euros) e António Paulo Costa (Mercedes SL 65 AMG no valor de 249 mil euros) incluíram entrega de chaves. Mas o advogado de Paiva Nunes alega que se tratou de um projecto de compra e venda não concretizando, recusando ter sido suborno.

O julgamento vai prosseguir todo o dia. Quando terminarem as exposições introdutórias por parte dos cerca de 50 advogados, serão identificados os arguidos um a um. Não se sabe se, ainda hoje, algum deles prestará declarações.

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