quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Portugal: GREVE GERAL PROMETE PARAR TRANSPORTES, ESCOLAS E HOSPITAIS




Andreia Sanches, Ana Rute Silva - Público

Carvalho da Silva dá o sinal de partida da paralisação

Pouco passava das 20h00 quando Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, deu o sinal de partida da greve geral, convocada para amanhã pelas duas centrais sindicais (UGT e CGTP) em protesto contra as medidas de austeridade.

Várias dezenas de trabalhadores juntaram-se a Carvalho da Silva junto ao aeroporto de Lisboa, onde o secretário-geral da CGTP iniciou o circuito pelas empresas em greve.

“A greve é geral, o ataque é brutal”, gritavam os trabalhadores, que vestiam coletes vermelhos de apelo à greve. Nos painéis de partidas de voos do Aeroporto de Lisboa era possível ver que vários voos foram cancelados.

Carvalho da Silva recusou-se a adiantar um número a partir do qual considerará a greve satisfatória, salientando que o movimento de apoio à paralisação, que se criou na sociedade, já é um grande sinal.

Os impactos da paralisação deverão sentir-se já hoje nos aeroportos. Às 21h00, era a vez de João Proença, secretário geral da UGT, visitar a zona do check-in.

Um ano depois de a CGTP e a UGT terem convocado uma greve geral contra o pacote de austeridade do governo PS, as duas centrais esperam uma participação de peso. Para controlar o défice e travar a crise, o Executivo de Passos Coelho quer avançar com cortes nos dois subsídios no sector empresarial do Estado, acrescentar mais 30 minutos ao horário de trabalho no privado e prepara-se para reduzir o número de feriados. As medidas, anunciadas sem negociação social, adensam as preocupações dos trabalhadores, do comércio ao ensino, dos hospitais às autarquias.

Ninguém arrisca previsões, mas certo é que quem tiver de viajar de avião pode contar com uma adesão significativa dos controladores aéreos, dos tripulantes e dos técnicos de handling. Para já estão apenas garantidas duas ligações aos Açores e uma à Madeira, ao abrigo dos serviços mínimos. O sector dos transportes é, aliás, um dos que começa a registar transtornos ainda esta noite. O Metropolitano de Lisboa já avisou que não vão circular carruagens a partir das 23h30, situação que se prolonga até à 1h00 de sexta-feira. A CP prevê perturbações entre esta noite e o início de dia 25.

Ao final do dia, a Fertagus informava que só garantia a circulação de comboios nos períodos de maior afluência e, mesmo assim, com intervalos médios de 20 minutos e de uma hora depois das 20h42.

Na educação, só amanhã se saberá ao certo quantas escolas vão encerrar. Na última greve geral, o Ministério da Educação indicou que fecharam 32% das cinco mil escolas públicas; a Federação Nacional de Professores avançou com 80%.

Os hospitais deverão ter as urgências a funcionar em pleno, mas as consultas externas vão parar, tal como os blocos cirúrgicos, avança o Sindicato Independente dos Médicos. Entre 75% e 85% dos enfermeiros devem aderir, uma percentagem inferior à da última greve geral, que se situou nos 90%.

Sendo os funcionários públicos os mais afectados pelas medidas adicionais de austeridade, os serviços da Administração Central devem trabalhar a meio gás.

Os apelos para a adesão à paralisação multiplicaram-se durante o dia de hoje. Mário Soares, Pedro Adão e Silva, Joana Amaral Dias, Medeiros Ferreira, Vasco Vieira de Almeida, entre outras personalidades, tornam público um manifesto em que apelam “à mobilização dos cidadãos de esquerda que se revêem na justiça social e no aprofundamento democrático como forma de combater a crise”.

Também o Sindicato dos Quatros Técnicos do Estado (STE) garantia em comunicado que o “caminho é o da participação em massa na greve geral de amanhã.” “Vamos a ela!”, acrescentava. “Se a manifestação nacional do passado dia 12 se aproximou das 200 mil pessoas, esta greve geral deve apontar para dados qualitativos e quantitativos ainda mais marcantes”, apelava.

A greve foi inicialmente anunciada pela CGTP no início de Outubro e acabou por contar com o apoio da UGT. Esta é a terceira paralisação geral desde a criação da UGT em 1978. A primeira aconteceu em 1988 contra a intenção de Cavaco Silva, então primeiro-ministro, de mudar a legislação laboral.

Sem comentários:

Mais lidas da semana