MARCO ORFEU MELO – PORTUGAL DIRETO
Otelo Saraiva de Carvalho, coronel reformado e figura de muita importância na estratégia e comando do 25 de Abril de 1974, mostrou-se descontente com este tipo de governação de Passos Coelho-Paulo Portas-Cavaco Silva. Vai daí, disse, entre outras coisas, que se mexerem demais com os militares pode vir a acontecer o derrube do governo por aqueles. Decerto através de um golpe de estado.
Otelo mostrou uma vez mais que depois de tantos anos nada aprendeu sobre comunicação. Otelo era e continua a ser um bronco. Talvez mesmo um inadaptado à democracia – o que é coisa que afeta bastantes militares habituados ao quero, posso e mando.
Otelo falou, usou de um direito que lhe assiste, deu a sua opinião, e logo apareceram uns titubeantes legalistas dizendo que o que disse pode ser encaixado numa qualquer prerrogativa de crime por o coronel estar a incitar à violência. Num título de jornal até podíamos ler que o PGR disse que sobre Otelo nada havia de inquérito, para já. Este “para já” é que cheira mesmo a Salazar. Inquérito porquê? Porque Otelo deu a sua opinião? E quem é que naquelas palavras (disparatadas e inconsequentes) consegue ver incitação à violência? Só um tipo que ignore que nem sequer em 1974 houve violência no derrube do fascismo salazarista. E também um tipo que ignore que Otelo teve funções de estratégia e coordenação nas horas mais importantes do golpe militar, horas e horas seguidas… e violência não houve. E agora é que ele estava a apelar e a incitar à violência? Não será que há aqueles cagarolas que querem penalizar o delito de opinião e que procuram pretextos em interpretações forçadas? Estamos a voltar ao antigamente? Pois estamos, como quem não quer que se perceba a coisa… estamos. Nada nos deverá admirar que Otelo e muitos outros, só por veicularem as suas opiniões sejam considerados criminosos. Os corruptos não o serão, certamente… e o PGR sabe isso muito bem. Como nem sonhamos.
Em publicação de hoje apareceu Otelo dizendo que gosta de dar umas pedradas no charco, pois claro, ele entendeu que dizendo o que disse ia fazer abanar uns quantos capacetes e pôr a funcionar uns quantos miolos. E só isso. É isso que significa uma ou várias pedradas no charco. Dar uns abanões com umas broncas. Para tal nada melhor que um bronco como Otelo.
Disse Vasco Lourenço, outro militar de Abril de 1974, que as declarações de Otelo foram disparatadas e que envergonhavam os militares de Abril. Por favor, que exagero. Os militares de Abril estão no topo da consideração dos portugueses desses tempos e não será por bacoradas de Otelo que perdem o valor e a alta consideração que merecem. Quanto às novas gerações… os militares de Abril nada significam. Não, porque os jovens e portugueses talvez até aos 50 anos não sabem o que é viver em regime ditatorial. Por isso, porque de geração para geração existe uma coisa chamada "apagar a memória", é que Passos Coelho é primeiro-ministro, e José Sócrates fez o mal que fez a este país. E antes dele assistimos às palhaçadas de Cavaco, de Durão Barroso, Santana Lopes... Por isso é que temos em Portugal um indivíduo na presidência da república que cheira por todos os poros como um Salazar deste século. Falso como Judas. Por isso é que estamos a passar mal e a ver destruírem todas as conquistas democráticas que fez de Portugal uma referência positiva aos olhos do mundo, com um povo pacífico que depois de 50 anos de ditadura usou cravos nos canos das armas. Só por isso as bacoradas de Otelo foram mesmo só isso, os tratantes no governo e nos outros poderes que não arranjem desculpas com isto para instalar a repressão inconstitucional e antidemocrática. Delito de opinião é coisa que não existe em democracia, só nas mentes saudosistas dos de “antigamente”.
1 comentário:
MUITOS QUE CRITICAM OTELO CHEIRAM A NATO QUE TRESANDAM!
1 ) O Otelo tem tanto direito à indignação como qualquer cidadão português lesado com a ditadura do capital que se vai assistindo sem alternativas em Portugal!
2 ) Ele percebe quanto se perdeu após os governos que foram sendo instalados a partir duma determinada altura, sobetudo quando Portugal entrou na Eurolândia, correspondendo às estratégias de Frank Charles Carlucci e de Mário Soares.
3 ) É evidente que as críticas que lhe estão a ser feitas trazem um sinal na sua matriz: a defesa do capitalismo selvagem inscrito no genes da Eurolândia, como a defesa da continuidade de Portugal na NATO, sem outros recursos, nem alternativas.
4 ) A sua indignação e os termos nela utilizados têm a seguinte virtude quanto às reacções que provocaram : MUITOS QUE CRITICAM OTELO CHEIRAM A NATO QUE TRESANDAM!
PAZ SIM, NATO NÃO!
Martinho Júnior.
Luanda.
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