ANTÓNIO COSTA - ECONÓMICO, opinião, em Concorrência Perfeita
Os mercados e os investidores não se comoveram com a eleição, por maioria absoluta, do novo presidente do Governo espanhol, a bolsa de Madrid tombou 3,48% e o custo da dívida pública espanhola a 10 anos face à alemã aumentou para o máximo de quase 500 pontos-base. Fica a lição, para Espanha e para a Europa: já não chega mudar de actores, é mesmo necessário outro projecto europeu, outras soluções.
No dia seguinte à eleição de Mariano Rajoy, e depois dos principais líderes europeus terem feito saber, oficiosamente, que aplaudem a nova estabilidade política em Espanha, a instabilidade financeira regressou em força. À semelhança do que sucedeu em Portugal, não há tempo para estados de graça, apesar de Rajoy ter pedido tempo - leia-se a misericórdia - aos credores internacionais. O novo presidente entra em funções no pior momento possível, porque a crise não é de um País, é de um modelo e de um projecto.
Chega, por isso, a ser confrangedor ver o esforço, inglório, do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso para apresentar propostas de saída da crise. Porque, realmente, não conta, já contava pouco, mas esta crise tornou mais evidente do que nunca que só há um número de telefone que vale a pena ter nesta Europa em crise, o da senhora Merkel.
O impasse na Europa é, neste sentido, também a indecisão da chanceler alemã que, no limite, poderá acabar sozinha com o euro. Ironicamente, os que entraram neste projecto da moeda única com mais reservas, e que blindaram de tal forma os mecanismos de funcionamento institucional da Europa, garantem estar a defender a sua estabilidade, mas à custa de todos os outros Estados-membros. Já nem a França escapa às pressões dos credores.
Hoje, por vias mais ou menos travessas, é um órgão não eleito por sufrágio universal a garantir a manutenção, ou melhor, a sobrevivência da moeda única: o Banco Central Europeu (BCE). Os líderes eleitos, esses, estão à espera de uma decisão da senhora Merkel, que quer dar passos seguros - e lentos - ao mesmo tempo que fala na necessidade de maior união política. Só que os mercados querem ouvir outros caminhos, e outros passos, bem mais rápidos.
A chanceler alemã bem pode levar a 'sua' até à última, mas vai ter de ceder em dois pontos críticos se quiser, mesmo, manter o euro e proteger a Europa de uma crise de consequências imprevisíveis: em primeiro lugar, o BCE vai ser obrigado a pôr a máquina de dinheiro a funcionar, porque, como é óbvio, quando a autoridade monetária do euro se afirma contrariada quando tem de ir ao mercado comprar dívida, os investidores/especuladores sabem que podem testar os limites. Ora, este braço-de-ferro só pode ser ganho pela Europa quando os investidores/especuladores perceberem que do outro lado não há limites. Em segundo lugar, o eufemismo de 'maior união política' vai ter de passar por uma integração económica e a emissão de dívida pública europeia, as famosas 'eurobonds'. O que quer dizer, como é óbvio, que vamos ter de partilhar, ou ceder, mais soberania.
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