sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Brasil: Primeiro ano de Dilma marcado por disciplina fiscal e combate à crise



Gisele Lobato, da Agência Lusa, com foto

São Paulo, 30 dez (Lusa) - A Presidente brasileira, Dilma Rousseff, completa no domingo um agitado primeiro ano no poder, que começou com o risco de sobreaquecimento da economia e termina com a necessidade de se estimular o crescimento do país.

O ano, coroado pela notícia de que o Brasil ultrapassou o Reino Unido e se tornou na sexta maior economia do mundo, começou justamente com a necessidade de colocar o país numa rota de "crescimento sustentado".

O Brasil que Dilma Rousseff herdou de Lula da Silva, seu "padrinho" político, vinha de um crescimento de 7,5 por cento em 2010. A inflação e o aumento do endividamento das famílias, porém, acenderam um alerta.

Mal assumiu a Presidência brasileira, a economista anunciou que inverteria a tendência de aumento nos gastos públicos que marcou o final do Governo anterior. Uma de suas primeiras decisões foi um corte na despesa de 50 mil milhões de reais (20,6 mil milhões de euros), seguido de medidas de contenção do crédito ao consumo e de um aumento na taxa de juro.

Em janeiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, registava uma alta de 0,83 por cento face ao mês anterior, a maior taxa em quase seis anos. No mesmo mês, o crédito malparado aumentou 24,8 por cento em termos homólogos, o maior índice desde julho de 2002.

Uma análise publicada pelo Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores (CEPAT), em parceria com investigadores do Instituto Humanitas Unisinos (IHU), destaca que a preocupação "evidente" dos primeiros meses do Governo em controlar a inflação causou um paradoxo com o "mantra" do crescimento económico.

"Foi necessário o agravamento da crise económica mundial para que o governo passasse a adotar medidas de caráter anticíclicas - de estímulo ao crescimento", avalia o estudo.

Redução de impostos, facilitação do crédito e estímulos à produção passaram, depois disso, a ser frequentes nos noticiários brasileiros.

O marco mais claro da mudança foi o dia 31 de agosto. Após cinco altas consecutivas nos juros, o Banco Central do Brasil surpreendeu todos os analistas e cortou a taxa em 0,5 pontos, para 12 por cento. A atitude foi inicialmente criticada, mas a posterior perceção de que a crise ainda estava só a começar deu à instituição um estatuto quase messiânico.

"Mesmo a crise internacional não fez o governo baixar a guarda com a vigilância fiscal", pondera o estudo do CEPAT e do IHU, destacando a decisão anunciada em agosto de aumento no superávit primário do país.

Para o coordenador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Armando Castelar, essa disciplina fiscal foi uma das características mais marcantes do primeiro ano do Governo Dilma Rousseff.

O economista alerta, porém, que esse controlo das contas públicas foi impulsionado mais por um aumento nas receitas do que pela redução nos gastos. "Contenção de gastos, infelizmente, só ocorreu nos investimentos, que é uma área mais nobre", avaliou.

Castelar pondera que não é possível prever como serão os próximos anos da Presidente com base no seu início, já que o controlo das contas públicas também tinha sido uma característica do primeiro ano de Lula da Silva.

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