ANTÓNIO TOZZI, Miami – DIRETO DA REDAÇÃO
Miami (EUA) - Newt Gingrich é o que se pode chamar de come-quieto. Quando começou a corrida pela indicação do Partido Republicano para ungir o candidato que terá o privilégio de disputar a eleição presidencial do próximo ano enfrentando Barack Obama, do Partido Democrata, muitos nomes foram surgindo como astros, mas se revelaram verdadeiros cometas, estrelas cadentes cujo brilho se apaga sem deixar rastros.
A brigada de choque dos republicanos, o indigitado Tea Party, tentou empurrar goela abaixo a candidatura de Michelle Bachmann, mas a deputada republicana por Minnesota demonstrou não ter nenhum estofo e não consegue decolar, apesar do discurso raivoso que pode seduzir os mais radicais, mas afasta os mais inteligentes.
Tentaram, então, tirar algum coelho da cartola ao empurrar o atual governador do Texas, Rick Perry, para a contenda. Teoricamente, ela se encaixava no figurino ideal. Conservador, à frente do Texas, um estado predominantemente republicano e com taxa de desemprego baixa, apoiado pelo cartel das petroleiras e com boa estampa. No entanto, quando os assessores dos outros candidatos levantaram a ficha dele constataram que ele havia assinado uma lei concedendo o Texas Dream Act para os jovens ilegais que viviam no estado e reuniam condições para continuar seus estudos universitários. Esta revelação, somada à sua falta de habilidade nos debates, derrubou a candidatura de Rick Perry.
Começou então a brilhar a estrela de Herman Cain, um empresário negro que se destacou no mundo corporativo como líder da rede de pizzarias Godfather. Poderia ser uma alternativa a Obama. Apesar de ser afrodescendente, o que certamente não desperta muito o entusiasmo dos brancos sulistas que ainda guardam resquícios de grupos racistas como a Ku Klux Khan, seu discurso conservador e a alternativa tributária angariou apoio. Quatro denúncias de abuso sexual e a total falta de intimidade com assuntos externos, porém, bombarderam sua candidatura.
Alguns parecem estar lá para fazer figuração, como é os casos de Jon Huntsman Jr., ex-governador de Utah, que foi até mesmo embaixador dos EUA na China no governo Obama. Ou seja, ficou marcado e não consegue registrar mais do que 1% na intenção de votos. Como ele, está Rick Santorum, ex-senador da Pensilvânia, que integra o time dos candidatos insípidos.
Um capítulo à parte fica reservado a Ron Paul, médico e deputado texano. Autor de ideias polêmicas, ele é do tipo ame-o ou odeie-o. Talvez por isto sua candidatura não vem fazendo o sucesso esperado. Seus seguidores empedernidos acusam a mídia de ignorá-lo propositalmente e, com isto, impedir o crescimento de sua candidatura nas pesquisas. No entanto, as ideias controvertidas e a idade avançada (76 anos) são fortes obstáculos a serem superados.
Restam, portanto, Mitt Romney e Newt Gingrich. Romney é de fato o que que reúne as melhores credenciais para enfrentar Obama. Tem porte de presidente, foi governador de Massachusetts e é empresário bem-sucedido. Todavia, sua indecisão e o rótulo de liberal pespegado pelos mais conservadores vem impedindo que ele deslanche definitivamente. Na verdade, sua constante mudança de opinião chega a ser irritante. Num dia, em um encontro com os eleitores hispânicos, diz ser a favor da legalização dos imigrantes indocumentados; em outro, com simpatizantes do Tea Party, promete que em seis meses expulsará todos os ilegais. E isto se repete com todos os assuntos, sobretudo na área da saúde, onde fez em Massachusetts um plano similar ao de Obama. Confrontado pelos adversários, respondeu candidamente que isto serve apenas para aquele estado, mas não pode ser aplicado em todo o país. Está patinando nas pesquisas.
Por fim, Newt Gingrich. Seu passado condena. Sempre apontado como corrupto, foi um crítico feroz de Bill Clinton quando era presidente da Câmara de Deputados e pediu a renúncia do então presidente por causa de seu caso com Monica Lewinsky que, segundo ele, feria o decoro. Descobriu-se depois que ele próprio tinha três amantes. Ou seja, é um caso típico de faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço.
Entretanto, por saber que não conta com os votos dos ultra-conservadores, ele deu uma cartada arriscada, mas que pode resultar no pulo do gato. Advogou a favor da legalização dos indocumentados e defendeu o Dream Act, itens considerados anátemas pelos conservadores radicais. Ele espera conseguir atingir o eleitorado hispânico e conquistar os independentes, isolando ainda mais a direita raivosa. As próximas pesquisas dirão se ele fez ou não a coisa certa.
*Foi repórter do Jornal da Tarde e do Estado de São Paulo. Vive nos Estados Unidos desde 1996, onde foi editor da CBS Telenotícias Brasil, do canal de esportes PSN, da revista Latin Trade e do jornal AcheiUSA
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