Nos últimos anos, virou hábito entre os formadores de opinião a afirmação de que o povo brasileiro é leniente e passivo diante dos infinitos escândalos de corrupção, prevaricação e bandidagem de nossa classe política. Tentam colar a imagem única de que os honoráveis bandidos só o são porque a massa de cidadãos assim permite. Isso também é uma verdade. Também. Mas há outras variáveis mais importantes e efetivas que propositalmente não são levadas em consideração, para que, no fim, reste ao povão o peso da culpa pelas safadezas políticas no Brasil.
A principal dessas variáveis é justamente a de maior monta: a certeza da impunidade. É essa praga, alicerçada ao lado direito da Praça dos Três Poderes, quem garante a tranquilidade dos marginais ao longo da Esplanada dos Ministérios. Um político pode roubar, matar e até defecar na cabeça dos ministros do Supremo Tribunal Federal com a convicção de que não será punido. Nossos bípedes togados querem mais é rosetar, detentores que são do teto salarial do funcionalismo público. Não passam de marionetes indicados pelos presidentes da República, desfilando suas togas pretas, numa espécie de luto eterno de sua própria existência vendida.
Mas, para não ficar parecendo uma crítica feroz e unilateral ao Poder Judiciário, que seja dada uma nova chance à Suprema Corte. No próximo semestre, os 11 ministros terão a missão de julgar, após longos sete anos, os réus do Mensalão e dos escândalos de corrupção durante o governo Lula. Vamos ver se o STF colocará algemas e mandará para a cadeia os nobres companheiros José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno, Marcos Valério e toda turma que tornou realidade a fábula de “Ali Babá e os 40 Ladrões”. Será que as supremas raposas vão ter a coragem, a honra e a dignidade de fazer cumprir a lei e, pela primeira vez na história, mandar para o xilindró uma camarilha política de alto escalão?
Como parte da estratégia de desqualificação das denúncias, é certo que partidários petistas dirão: “Ué, mas por que só mandar para a cadeia os companheiros bandidos petistas?”. Estão certos. A corrupção institucionalizada não é uma invenção do PT, muito menos uma exclusividade. Que sigam para o xilindró os bandidos tucanos, democratas, peemedebistas e os comunistas. Ladrão é ladrão independente de bandeira ou ideologia partidária. A corrupção não é um crime petista, tucano, malufista, sarneysista ou lulista. A corrupção é um crime hediondo. Essa é a definição correta.
Comprovados os crimes, qual o problema ou impedimento de mandar para a cadeia um José Sarney, um Paulo Maluf, um Fernando Henrique Cardoso ou um Luiz Inácio Lula da Silva? Qual é o mistério? Por que o petista José Dirceu, o petebista Roberto Jefferson e o tucano Eduardo Azeredo podem continuar ciscando nos poleiros palacianos, participando dos processos de tomadas de decisão e intermediando negociações e negociatas? Só por que o povo não está indo às ruas exigir suas devidas punições? Vamos deixar disso, minha gente! Isso é conversa pra boi dormir. São coisas de autoridades frouxas, mela-cuecas, engravatados sem qualquer vergonha na cara ou responsabilidade republicana.
Desde quando o povo ir às ruas é condição sine qua non para que os Poderes instituídos cumpram os atributos de suas funções e façam valer a legislação em vigor no país? As manifestações populares tem sim uma grande e importante missão, infelizmente velada no Brasil. Mas a punição aos bandidos políticos não pode estar condicionada à capacidade e disposição da população de protestar. Já passou da hora das nossas nobres autoridades pararem de vadiar e trabalhar um pouquinho, vocês não acham?! E o primeiro passo é bastante simples: lugar de corrupto é algemado no xilindró. Cumpra-se.
*Helder Caldeira é escritor, jornalista político, palestrante e conferencista, autor do livro “A 1ª PRESIDENTA”, primeira obra publicada no Brasil com a análise da trajetória da presidente Dilma Rousseff e que já está entre os livros mais vendidos do país em 2011.
www.heldercaldeira.com.br – helder@heldercaldeira.com.br
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