DORA MANTA PEREIRA – PORTUGAL DIRETO
Pescadores de Caxinas, Vila do Conde, fintaram a morte por milímetros. A informação da RTP mostrou muito bem e em exclusivo, algumas das reportagens, como foi e o que sofreram aqueles pescadores que com um grande quinhão de sorte escaparam com vida depois do barco em que trabalhavam se ter afundado. Passaram dias numa balsa a tiritar de medo, de frio, já sem esperança, nas palavras de um dos náufragos entrevistados.
A reportagem de uma das entrevistas tinha por cenário o interior de um autocarro e um jovem pescador que com olhos aparentemente incrédulos, por estar vivo, mostrava a quem o via a sua condição humilde e esforçada, em trabalho duro mas sempre mal remunerado. Pescador, profissão perigosa.
Quem correrá sistematicamente mais riscos nas suas profissões senão estes homens, pescadores, ou os operários da construção civil e de outras profissões que quase sempre são muito mal remunerados. Operários da indústria naval e outras incluídos neste rol infindável de profissões com riscos elevados de acidentes mortais ou de gravidade que inclui amputações, paraplegias, etc. E recebem subsídios de risco? Acaso têm sistemas de saúde exclusivos com um grande rol de benefícios para eles e para os familiares? Não. Mas deverá ficar claro que as suas profissões são de bastante risco. Pelas estatísticas, assim de cor, poderemos dizer que em média, de três em três dias, há um acidente mortal que abrange quase sempre estas profissões.
Entretanto vimos polícias a reivindicarem isto, aqui e aqueloutro. E até vimos outros de outras profissões muito mais privilegiadas reivindicar, reivindicar. Parece que quanto mais têm, mais querem. O que não será errado se tiverem pouco. Pergunte-se: quantos polícias no estrito cumprimento da profissão morrem? Qual é a média? Sem recorrer a estatísticas sabemos que é uma média ínfima se compararmos com os acidentes de trabalho noutras profissões operárias. Podemos concluir que não tem cabimento os polícias e similares receberem subsídios de risco? Decerto que não se fosse reconhecido e posto em prática o mesmo para determinadas profissões e exercício de determinadas funções arriscadas na construção civil e noutras profissões operárias. Por exemplo. Não é o que acontece, antes pelo contrário. Além de quase sempre existir falta de segurança no trabalho também a segurança quanto à sustentabilidade desse emprego é nula. Quem viu polícias caírem no desemprego às dezenas? Antes pelo contrário, cada vez há mais recrutamento de polícias. Quem vê milhares, dezenas de milhares de operários caírem no desemprego? Todos nós.
Esta mentalidade de determinados indivíduos, quase todos, que tiraram aquilo a que chamam um curso superior – vá-se lá saber porque o consideram superior –, verem a plebe como carne para canhão e pronta a explorar é a principal causa da falta de segurança a que os trabalhadores em profissões de risco têm de se sujeitar, assim como as péssimas remunerações e outras más condições de trabalho. Foi, é, e será – enquanto nada for corrigido – a razão porque há pescadores que morrem mas que podiam ainda hoje estar entre nós, entre os seus familiares e amigos. Aos que vão para o mar não lhes é proporcionada a segurança adequada. Alega o governo e os organismos que tutelam a pesca que “é a crise, que não há uns quantos milhões” para dotar de equipamento adequado as embarcações e um sistema avançado de sinalização. Pois será. Será uma estulta desculpa que já ouvimos há imenso tempo. Entretanto há quase cem mil euros para um automóvel para um ministro, e para outro além, e mais além… Entretanto Paulo Portas “perdoou”cerca de 190 milhões de euros a uns quantos com quem fez negociata com submarinos, digo, com uns Pandurs – carros de combate. Entretanto os políticos que nos parasitam desbundam. Entretanto viajam a eito para aqui e para ali. Entretanto inventam cargos para os amigos, sobrinhos e enteados, se for conveniente. Muitas vezes até é.
Não deixa de ser curioso que os que mais se revelam gananciosos são exatamente aqueles que se dizem com cursos superiores. Esses mesmos que na construção civil, por exemplo, são doutores e engenheiros de topo, são gestores e levam camiões TIR de euros para as suas contas bancárias sem que possamos compreender o que fizeram de tão mirabolante e produtivo para ganharem às centenas de milhares, aos milhões algumas vezes e por junto. Temos o exemplo de Jorge Coelho, um dos grandes gananciosos de Portugal e ex-colónias, dito socialista porque é militantes e foi dirigente do partido que teve e mereceu esse nome mas que já devia ter feito a respetiva e lógica correção porque de socialista nada tem e socialistas… Devem contar-se pelos dedos de uma mão. Isto com muito boa vontade. Obviamente que do social-democrata PSD… Se não fosse a crise até podíamos dar umas boas gargalhadas. E assim, por aí fora relativamente a outros partidos políticos.
São então estes senhores de cursos superiores que sabiamente dizem que para se crescer temos de empobrecer. Eles dizem: temos. Mas não empobrecem. Quem empobrece é o país. E o país é povo, não são esses proxenetas de canudo. Diplomados em parasitarismo e ganância. São esses, que têm levado o país para o descalabro com as medidas que têm decretado. Caso de Cavaco Silva, entre outros, que contribuiu bastante para o caos em que está o setor da agricultura e das pescas em Portugal. E agora é Cavaco que diz que temos de ser auto-suficientes, sacudindo as suas responsabilidades… Como se todos nós esquecêssemos!
É por estas misérias de mentalidades doutorais e políticas que temos centenas de milhares de portugueses a tinir de fome frio. Número que cresce cada vez mais. Que chegará rapidamente aos milhões, se é que não está lá já. Entretanto nada é feito acerca das reformas injustificadamente elevadas. Cavaco recebe só… cerca de 10 mil euros mensais. Outros haverá que recebem mais. Por quase nada. E deputados e outros, reformados com 40 anos e menos. Que vão acumulando reformas e mais isto e aquilo. A gananciar, sempre a gananciar e a tirar o pão para a boca aos pescadores e outros plebeus que sem cursos superiores conseguem pôr-lhes na mesa a comidinha que eles consomem em opíparos banquetes. Os pescadores que vêem muitas vezes a morte a acenar-lhes, a puxá-los, como estes, de Caxinas, que tiveram a morte bem à vista.
Depois de Escrito
Não se infira sobre o que é afirmado acerca de certos e incertos gananciosos e parasitas de cursos “superiores” e de “doutores e engenheiros” que o correr da pena leva tudo e todos na mesma consideração. Claro que há muitos licenciados e até doutorados que não fazem parte daquela raça maligna. Aliás, muitos deles e delas até são suas vítimas. Acabando por ser plebeus que estudaram para serem escravos, e há imensos nessas circunstâncias. Esses, que também sentem na pele o desemprego, a inutilidade de terem andado a queimar pestanas também são plebeus. Que o sintam sempre, mesmo quando um dia chegarem ao topo, se chegarem. Primem pela honestidade e pela justiça e decerto que teremos uma sociedade muito melhor.
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