domingo, 25 de dezembro de 2011

MACAU VOLTA A SER PORTO DE ABRIGO PARA PORTUGUESES




SOL, com foto – LUSA

A poucos meses dos 500 anos da chegada dos portugueses a Macau, o "porto de abrigo" do Oriente volta a estar na rota de Portugal e dos que querem dar a volta à crise europeia.

Com idades entre os 30 e os 45 anos, um currículo académico de nível superior, alguns dos "novos portugueses" em Macau possuem um desejo comum: trabalho e crescimento profissional.

Natacha Morais, 36 anos, chegou a Macau há seis meses, deixando para trás marido e filhos pequenos, que hão-de juntar-se-lhe em Janeiro. Tem tudo para ser chamada de "mãe coragem", mas rejeita o título. "Coragem é não ter dinheiro para pôr comida na mesa ao fim do dia e não fazer nada para mudar as coisas", afirmou a professora de inglês, que durante dois anos viveu entre o trabalho precário e o recibo verde em Portugal.

A decisão de ser ela a "vir à frente" foi tomada porque Macau precisa sobretudo de mão-de-obra com formação superior, e Natacha Morais era a única do casal que correspondia aos requisitos. Ainda assim, demorou cinco meses a arranjar trabalho e encontrou-o na escola chinesa.

Motivado pelas mesmas circunstâncias económicas, "Bibito" (Henrique Silva), 44 anos, chegou a Macau em Setembro, mas com a vantagem de já conhecer "os códigos" do território, uma vez que foi na Macau da década de 1990 que "nasceu" profissionalmente.

A transferência da região para a China em 1999 marcou o regresso a Portugal. Mas 12 anos depois voltou a uma cidade com um mercado mais competitivo, com cada vez mais casinos e muito menos aspecto de aldeia. Com uma diferença face a Portugal: "Lá andamos todos deprimidos e aqui há uma aura positiva".

"Aqui uma pessoa pode pensar a longo prazo; pode pensar em férias, em comprar uma casa, em ter um projecto de vida", explicou o designer, actualmente a estabelecer uma agência de publicidade em Macau.

Além dos que regressam ao "porto de abrigo" como Bibito, muitos mais pisam o Oriente da calçada e língua portuguesa pela primeira vez.

Joana Fernandes e Gonçalo Rocha, de 30 e 33 anos, são o exemplo de um casal “chegado de fresco”, com um percurso idêntico ao de muitos jovens licenciados portugueses.

Ele era administrativo durante o dia e chefe num restaurante à noite, ela, com currículo na gestão hoteleira, estava sem trabalho.

Em meados de Outubro, tentaram a sorte em Londres, mas o "clima", a "segurança", e a oportunidade de fazer "currículo" na Ásia fizeram com que nem olhassem para trás quando surgiu o convite para Macau.

"Aqui há muito emprego, principalmente na parte da hotelaria e turismo. Uma pessoa que diga que esteve na Ásia ou em Macau a trabalhar, faz um currículo muito bom e por isso é uma oportunidade", lembrou Joana, logo apoiada pelo namorado que sublinhou a grande mais-valia de a economia local estar "a crescer cada vez mais".

É aliás esta dinâmica da Ásia que justifica o fluxo de novas caras a falar português em Macau.

"Compreendo perfeitamente a situação difícil que se está a viver lá [Portugal] e que as pessoas tenham de procurar oportunidades noutros locais. Fico muito feliz por Macau ter oportunidades para oferecer às pessoas. E claro que têm de agarrá-las, especialmente agora que vai piorando a crise", salientou o advogado, José Maria Abecassis.

O jurista ainda a concluir o estágio chegou a Macau com a família aos sete anos e hoje, aos 31, é o único de 12 irmãos que permanece na região, tendo-se ausentado uma única vez, entre 2000 e 2004, para iniciar o estudo de Direito em Lisboa, curso esse que viria a concluir "em casa".

"Sou mais um macaense que regressou à terra do que um português que fugiu à crise", assume, ao comentar que "Macau pode dar uma oportunidade para as pessoas ganharem de novo a vida". Portugal a partir de agora, “só de férias", concluiu, resumindo o estado de alma dos recém-chegados.

O número de portugueses em Macau e Hong Kong é de cerca de 130.000. A grande maioria é de origem chinesa, entre 3.000 a 3.500 são oriundos de Portugal e entre 10.000 a 15.000 são os chamados macaenses, naturais de Macau com origem chinesa e portuguesa.

Ao contrário de outras nacionalidades, os portugueses que chegam a Macau com um contrato de trabalho passam a ser titulares do bilhete de identidade de residente não permanente.

Mas após sete anos de residência com contrato de trabalho, assumem o estatuto de residentes permanentes, passando a ter os mesmos direitos de todos os outros cidadãos, menos desempenhar cargos no governo, embora possam candidatar-se a deputados à Assembleia Legislativa.

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