sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

OS ABUTRES




ANTÓNIO ALTE PINHO – LIBERAL, opinião, em Colunistas

A minha breve passagem por Lisboa, que hoje (11 dez) se encerra com o regresso à cidade da Praia, permitiu-me, quase oito meses depois da última passagem por Portugal, deparar com um país à beira do agudizar galopante de uma crise que, ao contrário de se lhe vislumbrar um fim, indicia consolidar-se ainda mais e impor-se com redobrada violência sobre os que menos têm.

O previsível colapso da Economia europeia, originado pelo primado da especulação financeira que nos últimos anos remeteu para papel secundário a produção, numa espiral que transformou a Economia mundial num insano e imenso casino, tem, porém, razões antigas que assentam na própria organização social sobrevalorizando o lucro e remetendo as pessoas para papel meramente residual.

Foi a lógica do lucro – e não as românticas alusões à aventura e “descoberta de novos mundos” – que transformou em navegadores os famintos da velha Europa em demanda pelo mundo, lavrando manto de saque, rapina, escravização e genocídio de outros povos até então livres e dispensando a chegada da “civilização”. E é essa mesma lógica que, perdidos os impérios e na impossibilidade de novas descobertas, transformou toda a Humanidade em escravos assalariados, vulneráveis a suicidas financeiros e vítimas da ganância dos que controlam a Economia, provocam as crises e sangram os que menos têm para acumulação de mais e imorais lucros.

A situação actual assemelha-se, sim, a um autêntico genocídio civilizacional, arrastando povos e países inteiros para o precipício, meramente para satisfação dos interesses mesquinhos de uma ínfima minoria de parasitas acantonados nos mercados financeiros. São eles que provocam as crises, são eles que manietam os Estados, são eles que subvertem a democracia ao anularem o primado dos direitos individuais e colectivos e da política sobre a Economia, transformando os governos em meros funcionários de interesses particulares.

As pessoas estão transformadas em consumidores e meras mercadorias, dispensáveis a todo o momento, invertendo o princípio de que é a Economia que deve estar ao serviço das pessoas e atirando a democracia para o terreno do mero formalismo funcional, transformando os próprios actos eleitorais, cada vez menos participados, em autênticas farsas em que os eleitores elegem o próximo ladrão que os vai roubar. E este não é um cenário decorrente de qualquer alucinação, está assente em factos que revelam ser a participação democrática e a cidadania um estorvo para as necessidades de governança dos que mandam no mundo.

Mais do que encontrar respostas para a crise, mais do que persistir nas velhas receitas de austeridade, que provocam a estagnação económica e alastram o espectro da miséria, importa procurar novos caminhos que passam, necessariamente, por um corte com a organização económica e social que a provoca. Por qual razão a Humanidade tem de pagar os custos da ganância de uma ínfima minoria? Por qual razão abutres escondidos atrás de sociedades anónimas e offshores deverão mandar em governos eleitos pelo voto popular, subvertendo a vontade colectiva e a democracia?

*ANTÓNIO ALTE PINHO - jornalista - privado.apinho@gmail.com

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