RTP
A arqueóloga e perita da UNESCO Maria da Conceição Lopes manifestou-se hoje confiante na elevação das ruínas de M`banza-kongo, em Angola, a património da humanidade, admitindo que a decisão final aconteça em junho de 2013.
"Há grandes possibilidades de o sítio vir a ser inscrito como património", disse a especialista portuguesa ao regressar de Angola, onde esteve a acompanhar o programa arqueológico do projeto "M`banza-kongo - Cidade a desenterrar para preservar", a convite do Governo angolano. Em 2010 tinha sido enviada pela UNESCO para avaliar o potencial da candidatura do sítio a património da humanidade, tendo então feito um conjunto de recomendações, que foram adotadas.
Para já, o que é visível é a Sé Catedral, apontada como a primeira igreja católica ao sul do Equador, afirmou Conceição Lopes, explicando que, apesar de ter sido construída após a chegada dos portugueses, no final do século XV, resulta de "uma técnica de construção própria dos mestres locais, que não foi levado pelo poder colonial".
"Vê-se a capela-mor, onde o papa João Paulo II rezou uma missa quando esteve em Angola, as naves", descreveu, acrescentando haver ainda, na missão católica, um conjunto de vestígios que terão a ver com outra igreja, dos monges Capuchinhos.
No entanto, os especialistas estimam, com base nos documentos escritos que referem M`banza-kongo como a cidade dos sinos, que houvesse pelo menos sete igrejas. Além disso, "há as estruturas do reino do Kongo, anterior à presença dos portugueses", disse a arqueóloga.
Os documentos dizem que a cidade tinha muralhas, possivelmente anteriores ao período colonial, e haveria ainda um palácio dos reis, construído numa técnica diferente, em terra batida, do qual não há ainda qualquer vestígio à vista.
As ruínas situam-se num planalto no centro da cidade de M`banza-kongo, que tem dezenas de milhares de habitantes, entre os quais muitos refugiados angolanos recentemente retornados da República Democrática do Congo.
Questionada sobre o perigo de a pressão demográfica da cidade acabar por destruir alguns dos vestígios, Conceição Lopes disse à Lusa que "o plano diretor deverá acautelar isso, e prevê-se que acautele".
A ministra da Cultura, que "está muito empenhada no processo", tem estado em diálogo com o ministro do urbanismo e o governador da província e "estão conscientes de que se não se acautelar poderá haver problemas", disse a especialista, recordando que o risco de o património ser engolido pela pressão demográfica "existe sempre, em todo o lado".
Sobre a candidatura a património da humanidade, a arqueóloga afirmou que até ao final de agosto deverá ser entregue à UNESCO todo o dossiê que fará a inscrição do sítio, depois haverá visitas dos peritos do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS), de que Conceição Lopes faz parte, e em junho de 2013 a comissão reúne-se para tomar uma decisão final.
A perita defendeu ainda que os critérios a utilizar na avaliação desta candidatura não poderão ser os mesmos que se usa para classificar os grandes sítios europeus.
"Normalmente pensa-se que os critérios têm a ver com grandeza, como na Mesopotâmia ou no Douro Vinhateiro. Neste caso, os vestígios não têm essa imponência visual, mas têm uma imponência cultural", disse.
Para Conceição Lopes, trata-se de "um património de uma envergadura extraordinária porque representa uma boa parte da história e da cultura do reino do Kongo, que é muito anterior à chegada dos portugueses", estimando-se que date de meados do primeiro milénio.
A primeira fase das escavações arqueológicas terminou na semana passada e decorreu durante cerca de um mês, envolvendo uma equipa de especialistas angolanos e estrangeiros, incluindo Conceição Lopes.
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