ABEL VEIGA – TÉLA NÓN
Tudo aconteceu na última segunda – feira. Dois homens entraram na casa do economista Teotónio Torres, e tentaram estrangula-lo. Activista cívico que tem denunciado casos de corrupção, Teotónio Torres, disse ao Téla Nón que a polícia concluiu que o ataque de segunda-feira foi uma tentativa de homicídio.
Teotónio Torres descreve os dois atacantes, como sendo jovens. Na manhã do último domingo, ouviu o seu cão a ladrar. Saiu e encontrou dois jovens no portão da sua residência no centro da capital São Tomé, mais concretamente nos arredores do Liceu Nacional. «Eles disseram-me que eram jornalistas e que tinham tomado conhecimento de um assunto publicado por mim na Internet e que por isso, queriam saber mais pormenores. Desconfiei e disse que não tinha publicado nenhum artigo e que não iria falar. Então foram-se embora», explicou Teotónio Torres.
Ao que tudo indica os dois visitantes de domingo, estavam a fazer trabalho de reconhecimento do terreno. Porque na segunda – feira por volta das 10 horas, o economista, que foi ministro da economia na década de 80, foi alvo de um ataque perpetrado por dois homens. «A minha mulher tinha saído. Mas senti que havia pessoas em casa. De repente, um dos homens agarrou-me pelas costas e tapou-me a boca. Resisti e gritei “socorro….acudam-me”. Então a minha empregada, vinha da parte traseira da casa, gritando “o que foi doutor, ….o que foi doutor”. Os dois homens ao ouvirem a voz dela que vinha em meu socorro fugiram», afirmou Teotónio Torres.
Com 80 anos de idade Teotónio Torres, tem deficiência num dos olhos, mas conseguiu ver em que direcção os dois homens seguiram. Um pôs-se em fuga na estrada que dá acesso a Universidade Lusíadas e ao Liceu Nacional, e outro correu no sentido contrário em direcção a biblioteca nacional. «Não levaram nada. Como vê aqui nesta sala tem televisor, computador, impressora, rádio, etc. Não levaram nada. Vieram apenas com o propósito de fazer qualquer coisa contra mim», acrescentou.
Os atacantes, deixaram um boné em cima do sofá da sala. O caso foi entregue a Polícia de Investigação Criminal, que na primeira leitura do caso, confirma que os atacantes pretendiam apenas pôr em causa a integridade física do activista cívico. «A polícia chegou a conclusão que o propósito dessas duas pessoas, era molestar-me fisicamente ou matar-me. Porque se era para apenas bater-me teriam feito. Mas agarraram-me, provavelmente para fazer qualquer coisa comigo. Um deles trazia uma saca», pontuou.
Teotónio Torres, é um dos dirigentes da Associação dos Economistas de São Tomé e Príncipe. Tem organizado várias palestras, onde são denunciados alegados actos de corrupção na gestão do dossier petróleo. Desde finais de 2009, que Teotónio Torres, tem desenvolvido intensa campanha de sensibilização da sociedade civil sobretudo os jovens, no sentido de serem parte activa na defesa do bem público.
Nas palestras e debates públicos não tem poupado os governos. Contesta a forma como o bem público é gerido, e através da Associação dos Economistas, apresenta sugestões e alternativas que podem ser seguidas pelos executivos. Foi assim no anterior governo de Rafael Branco, tem sido assim com o actual governo.
A gestão do dossier petróleo é um dos principais alvos das críticas de Teotónio Torres. «Em relação ao petróleo escrevo e falo de tal maneira que deixa claro que há corrupção generalizada até do próprio governo. E falo disso de forma aberta sem preocupações. Mas chegarem essas pessoas, ao ponto de me querer matar, tenho dúvidas. Mas tudo é possível. Eu sei que aqui em São Tomé, há partidos políticos que dizem que podem até matar pessoas», referiu Teotónio Torres.
A actuação de um dos homens que agarrou Teotónio Torres na sua residência, fala por si. Tapou-lhe a boca. Como quem diz «cala-te». Nos últimos meses, para além das palestras no âmbito da Associação dos Economistas, Teotónio Torres, começou a escrever artigos de opinião no Jornal “O País”. Artigos que denunciam comportamentos e alegadas práticas ilegais de personalidades políticas. Artigos picantes, que têm provocado o esgotamento volátil do jornal “O País” nas bancas. «Eu não tenho inimigos, pelo menos que eu conheça. Agora a minha forma de escrever pode suscitar inimizades. Mas inimizades que possam levar as pessoas a matar-me, acho que não justifica», acrescentou.
A esposa de Teotónio Torres, confirmou que tem sido alvo de alguma pressão, em consequência da acção cívica do marido. «Tentam também minar as pessoas próximas de mim, que por sua vez dizem-me, que tenho uma vida a defender, para não ir atrás das loucuras do meu marido. Um tipo de linguagem, no sentido de o isolar completamente», declarou a esposa.
Teotónio Torres, prosseguiu a conversa com o seguinte relato. «Já vieram até aqui me dizer, que tenho uma linguagem muito azeda contra o poder e que isso poderia me sair muito mal», precisou.
O ataque contra Teotónio Torres na sua residência, é um mau presságio. Desde o advento da democracia pluralista em São Tomé e Príncipe, que a emissão de opiniões ou denúncias de factos, sempre geraram mal-estar no seio de alguns sectores da sociedade. No entanto nunca foi motivo para aqueles que exercem a liberdade de expressão, de opinião e sobretudo o direito de informar, sejam cidadãos ou jornalistas, perdessem o sono. Podiam dormir seguros de que no dia seguinte à publicação do artigo ou da declaração proferida, continuariam vivos, e sem qualquer risco de serem atacados em casa ou na rua. O espírito pacífico são-tomense, tem sido marca registada da vivência na jovem democracia.
O caso de Teotónio Torres, mostra que a mudança está a acontecer. O caso está a ser investigado pela Polícia. Teotónio Torres, não está amedrontado. «Por mim, podem matar tanto faz. A minha mulher e os meus familiares é que estão preocupados», concluiu.
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