Stephanie Lai – PontoFinal
O columbário da Shun Tak na Taipa tem estado virado para o mercado de Hong Kong, quando o acordo com o Governo expressa que o serviço deve destinar-se à população de Macau. Os Kai Fong criticam.
O columbário privado gerido pela Shun Tak, o Taipa Hills Memorial Garden, está instalado num terreno atribuído pelo Governo à empresa para construir uma Casa Memorial dos Antepassados destinada à população de Macau. No entanto, os cinerários têm sido adquiridos sobretudo por residentes de Hong Kong, apresentados como os compradores alvo da concessionária. O deputado Ho Ion Sang, dos Kai Fong, questiona a legalidade do projecto e insiste no reforço da legislação sobre os espaços onde são colocadas as urnas.
Localizado nas traseiras do cemitério Hai Si desde o ano passado, o Taipa Hills Memorial Garden oferece mais de 40 mil columbários privados, feitos a pensar no mercado de Hong Kong. Tal como é publicitado pela empresa, os cinerários vão ser vendidos num espaço de três anos – numa primeira fase, são disponibilizados apenas sete mil, com um leque de preços que vai de 40 mil a 378 mil dólares de Hong Kong. Os valores, explica a Shun Tak, variam conforme a localização e o espaço dos columbários.
Há os do modelo ‘standard’; ‘deluxe’, para urnas individuais; e os ‘premium’, que permitem acomodar dois cinerários. Além do custo das urnas, os compradores precisam também de pagar uma taxa de manutenção dos columbários, que pode ir de 11 mil a 14 mil dólares de Hong Kong. O montante destina-se a assegurar serviços como a preparação de rituais de culto aos antepassados, e o transporte e alojamento de quem adquire as urnas.
A Shun Tak, que tem como directora-geral Pansy Ho, filha do magnata Stanley Ho, defende que o Taipa Hills Memorial Garden funciona de maneira “totalmente legal” uma vez que está licenciada para exercer a actividade e obteve o contrato de concessão do Governo.
Há um despacho do Governo de 2007, assinado pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Lau Si Io, que revela que o terreno onde está hoje o columbário da Shun Tak foi concessionado numa primeira fase à Companhia de Desenvolvimento Tin Wai. Desde 1999 que a empresa aguardava que a Administração autorizasse a mudança de finalidade do lote para construir uma Casa Memorial dos Antepassados e um parque de estacionamento. O terreno estava destinado à construção de um edifício para o fabrico de manilhas e elementos de betão. O pedido de alteração da finalidade do terreno foi feito com base nos “enormes prejuízos económicos obtidos” com a actividade industrial.
O pedido acabou por ser autorizado pelo Governo, através de Lau Si Io, onde também se pode ler que o terreno ganhou novo destino com fundamento “na oportunidade da população de Macau beneficiar de um lugar próprio e definitivo para o depósito de cinzas resultantes da cremação dos mortos e a prática tradicional de reza aos defuntos”. No entanto, desde meados de 2010 que o principal mercado do Memorial Garden é Hong Kong.
A questão está a preocupar Ho Ion Sang que, numa interpelação escrita ao Governo, põe em causa a legalidade da venda de columbários locais a residentes do exterior. “A legalidade da concessão, o funcionamento do columbário privado e as vendas para fora do território devem ser questionados, uma vez que não há uma definição clara sobre o que é um columbário em Macau”, alerta o deputado. “Nem sequer temos um departamento específico que seja responsável pela aprovação e fiscalização” das urnas, acrescenta. Admite também a possibilidade de a “concessão violar o despacho” de Lau.
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