O mais recente cartoon de Rodrigo, autor do blogue "Humoral da História", no site do Expresso |
Na semana passada, Cavaco Silva, Presidente da República, afirmou que a sua reforma não dá para as despesas. Assombrada e chorona, a nação entrou em choque depois de ouvir estas palavras. Portugal descobriu que tem um Presidente pé-rapado. A crise não deixa escapar ninguém, nem mesmo aqueles com quase 700 mil euros a render (de facto, os juros estão muito baixos). Mas, mais uma vez, a nação mostrou que tem um coração especial. Há um quinto imperalista da piedade no coração de cada português. E, dando azo a esta bondade intrínseca, uma onda de solidariedade varreu todos os lares, do Minho a Timor. Milhares de pessoas acorreram à segurança social mais próxima no sentido de doarem parte das suas reformas ao empobrecido e sobreendividado Presidente. Na segurança social do Príncipe Real, enquanto uma horda comovente de cidadãos entregava os seus porquinhos mealheiros, ouviam-se gritos de "Cavaco, amigo, os tesos estão contigo".
A onda de solidariedade não ficou por aqui. Na paredes do compro, vendo e alugo dos supermercados, centenas e centenas de cidadãos ofereceram quartinhos ao Presidente ("se não se importar de partilhar quarto com a Irina e Svetlana, que estão cá em Erasmus, V. Exa. está à vontadinha"). T1 e T2 a preço de amigo também foram anunciados. Entretanto, esta onda transformou-se num verdadeiro tsunami de boa vontade quando as instituições de solidariedade social abriram as portas ao nosso querido e carenciado Presidente. A Caritas prometeu roupinha, porque, como se sabe, 10 mil euros de reforma não chegam para comprar muitos trapinhos. E o Banco Alimentar lançou uma recolha especial.
Esta reportagem viu, ao vivo e a cores, a extraordinária boa vontade do povo português nesta acção do Banco Alimentar. Nos supermercados de Lisboa, das Avenidas Novas a Xabregas, os cidadãos encheram carrinhos para o casal Aníbal e Maria. No super da João Crisóstomo, senhoras de farta idade entregaram pacotes de bolacha de água e sal, dizendo "isto é para a primeira-dama molhar no leitinho, 'tá bem?". A par da bolachinha de água e sal, o povo providenciou uma enxurrada de pacotinhos de leite, de linguiça, de farinha, de azeite e de óleo. No meio desta boa vontade colectiva, houve apenas um estranho incidente: um cidadão forçou a oferta de um carrinho cheio de cadernos quadriculados e máquinas de calcular. Por enquanto, os responsáveis desconhecem a identidade e a intenção do cidadão. Assim que se justificar, a nossa reportagem voltará ao caso.
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- As assinaturas na Petição Pública para que Cavaco Silva se demita já ultrapassam as 35.700 neste momento.
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