sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Cabo Verde: Da política entre nós… dos lideres, das farsas, das promessas e do futuro…



Expresso das Ilhas, opinião

Entre outras coisas 2011foi um ano de intensa aprendizagem. Estar na política e participar de forma intensa em duas eleições tão definidoras para a Nação cabo-verdiana como as legislativas de Fevereiro e as presidenciais de Agosto é um privilégio. Privilégio que nos permite distinguir as castas dos homens e dos políticos cabo-verdianos. Avaliar os contributos, separar a classe dos fanfarrões e a dos valiosos. Nem todos valem o que dizem, poucos valem tanto quanto pensam valer e somente os realmente valiosos nada dizem sobre o que valem.

Estar na política cabo-verdiana a valer é reconhecer de imediato o peso que Carlos Veiga e José Maria Neves têm hoje na idiossincrasia dos cabo-verdianos. É saber de antemão que pelos seus percursos, ambos, ainda terão vida longa na política cabo-verdiana independentemente da sua situação nos respectivos partidos. É saber que Neves terá sempre um Felisberto Vieira como oponente e Veiga nunca terá na sua geração um opositor à altura dentro do partido. Estar na política a sério é perceber que estes dois homens encarnam dois momentos distintos da história de Cabo Verde e que a substituição das suas lideranças será o maior desafio de ambos os partidos.

Ter estado na política em 2011 permite-me também adiantar que o MpD leva, neste momento, vantagem em relação ao PAICV nesse processo histórico de construção da sua futura liderança. Mais, na minha perspectiva o MpD já resolveu essa questão. Carlos Veiga nesse sentido está a conduzir sabiamente esse processo. Poderia ter abandonado o partido após as legislativas, poderia não ter assumido a luta presidencial e o imperativo de fazer eleger Jorge Carlos Fonseca, poderia ausentar-se da vida parlamentar e finalmente poderia não se empenhar de corpo e alma como está a fazer no processo autárquico. Contudo é nesse espírito de líder visionário que ele está a conduzir a sua sucessão para o desespero daqueles que esperavam o desmembramento do partido e o regresso a lutas fratricidas. Neste momento o MpD precisa de Carlos Veiga muito mais do que Carlos Veiga precisaria da liderança do MpD para ser a figura que é.

Na verdade, Carlos Veiga teve a missão simplificada com o surgimento dentro do partido de um sucessor natural: Ulisses Correia e Silva. Quando digo natural, falo de alguém que soube conquistar o seu espaço pela sua capacidade de trabalho e por uma notoriedade que hoje ultrapassa a questão regional. Resta a UCS ter a inteligência de construir uma equipa sólida e consistente em metas, processos e modus operandi. De resto o futuro líder também terá de ter a coragem política de montar os bastidores do partido com os nomes de peso que já não representam valor acrescentado na hora de ganhar votos mas que constituem valor imprescindível na hora da planificação e estratégia. Uma coisa é certa: UCS não poderá nem deverá negociar com ninguém que venha a se apresentar como candidato apenas com a intenção de comerciar a sua inclusão nos órgãos do partido. Espero que faça uso dessa prerrogativa de não negociar fazendo com que na convenção,
em último caso, haja disputa e vença o melhor candidato.

"Que papel terá Carlos Veiga no futuro do partido?" esta é a pergunta que muitos fazem nesta altura. Antes de mais Carlos Veiga é hoje o líder do partido e só deixará a liderança por decisão própria e no final do seu mandato se assim o entender. Mais, estar na política em 2011 permite-me responder à pergunta sobre o papel de Carlos Veiga no MpD do futuro: Carlos Veiga será sempre Carlos Veiga em Cabo Verde e na cultura política nacional. De nada adianta as tentativas de linchamento público e a multiplicação de ataques que tem sido alvo por parte do PAICV. O apoio de Carlos Veiga continuará a ser insubstituível para quem quiser ganhar com o logótipo do MpD. Mais, quem quiser suplantar a herança de Veiga terá que se preparar para superar a sua capacidade de trabalho como líder, algo que constitui um desafio para qualquer um. Digo mais, tal como na eleição de 2011, Jorge Carlos Fonseca, provavelmente apenas voltará a ser eleito se Carlos Veiga o apoiar em 2016. É fundamental não cair em fantasias e contos de fadas à volta das eleições presidenciais de 2011. Mais não digo sobre esse tema por agora. Acrescento apenas que o ano de 2011 na política permite-me dizer que um mandato pode ser muito tempo na política.

Do outro lado, no PAICV, a opção Felisberto Vieira seria mais do mesmo. Mais da mesma geração, da mesma casta, da mesma visão gasta e sem futuro para Cabo Verde. Embora há que reconhecer em Felisberto Vieira um político de fibra, algo que irá complicar os planos dos que ensaiam outra opção. Pelo que se sabe no terreno, ensaia-se a opção Janira Hopffer Almada que já faz campanha com o slogan "Compromisso com a juventude"... com o apoio de José Maria Neves. Janira H.A., diga-se de passagem, não está a tempo de superar Ulisses Correia e Silva em percurso e credibilidade, faltando-lhe um certo grau de maturidade pessoal e emocional. De notar, contudo que JHA, juntamente com Fernando Elísio Freire são os jovens com maior notoriedade nos respectivos partidos a nível nacional. Um porque é o líder parlamentar do maior partido da oposição e tem uma notável entrega ao confronto político e a outra por ser uma das ministras com maior influência no governo de JMN. Algo que me permite dizer que ambos irão desempenhar importante papel nas eleições autárquicas que agora se avizinham. O grande desafio a médio prazo será para ambos conseguir conquistar e liderar uma região política: Santiago Sul para JHA e Santiago Norte para Fernando Elísio. A pergunta é: serão audazes a tal ponto? Espero que sim, seria a independência política de ambos em relação às velhas guardas dos respectivos partidos.

Dos dois, acredito que o futuro de Fernando Elísio promete muito mais pois será uma peça fundamental e imprescindível para que a equipa do MpD possa vencer as legislativas em 2016. Equipa que também terá de contar com a nata da nova geração do MpD: Janine Lélis, Joana Rosa, Milton Paiva, Filomena Gonçalves, Paulo Veiga, José Tomás Lima Veiga, Isidoro Gomes (actual líder da JPD Portugal), Miguel Monteiro, Lourenço Lopes, Luís Carlos Silva, Carlos Monteiro, Isa Costa, Eva Marques, Tony Miranda e um punhado de jovens bem formados e engajados que neste momento já deram o seu sinal de que irão engrossar as fileiras do partido nos próximos embates.

Do outro lado teremos um partido que apesar de ter construído um pequena elite interna, será incapaz de se identificar com a juventude cabo-verdiana porque liderada por figuras do sistema Neves como é o caso de Janira Hopffer Almada, Nuías Silva, Adalberto Vieira e não fosse a infeliz ocorrência do mês de Dezembro, até pelo próprio Veríssimo Pinto. Figuras como Edson Medina (digam o que disserem Medina é dos poucos políticos natos da nova geração tambarina), Luís Miguel Lima, Maki Silva, Sidónio Lenivelt Monteiro e Indira Pires (que transmite uma autenticidade e uma carisma quimérico em JHA) serão sempre alternativas para a renovação de caras e pensamentos.

Da velha guarda, no MpD e no PAICV, existem duas figuras que continuarão a ter um peso político considerável independentemente das conjunturas futuras: Jorge Santos e Rui Semedo. Ambos pelo peculiar sentido político, astúcia e posicionamento estratégico a nível das suas regiões políticas. São também figuras nacionais incontornáveis.

Já estamos em 2012 e a experiência de ter estado na política no ano de 2011 permite-me pensar que mais do que um ano de crise, este será um ano político por excelência e que mais do que nunca a sociedade civil será interpelada a agir mais do que reagir, a contestar mais do que acomodar-se, a dar o exemplo mais do que apontar o dedo, a cobrar aos seus representantes para que cumpram o seu dever de defendê-los mais do que a esperar pela hora do voto para castigá-los.

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