Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
O verdadeiro primeiro-ministro de Portugal, Miguel Relvas, defendeu hoje que Portugal deve "olhar para outros mundos" e menos para a Europa.
Tem toda a razão. Se calhar, digo eu, os portugueses até ficariam gratos a Miguel Relvas se ele, que também relevou a existência de uma nova emigração protagonizada por uma "juventude bem preparada", desse o exemplo e fosse pregar para outras paragens, eventualmente para o Burkina Faso.
"Se nós olharmos para a nossa história, sabemos que sempre que nos encostaram ao oceano foram os momentos de maior glória da nossa história", disse Miguel Relvas, inspirado em Guerra Junqueiro quando falava de “uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro”.
Na opinião de Miguel Relvas, "a verdade é que nos últimos 20 anos estivemos demasiado preocupados com a Europa". Tem razão. Entre a Europa, o umbigo e as mordomias de uma casta superior, os políticos portugueses sempre mostraram que, no mínimo e como dizia Eça de Queiroz, deveriam ser mudados, como as fraldas, regularmente e pelas mesmas razões.
Ressalvando que os portugueses "não devem deixar de olhar para a Europa", o ministro que protocolarmente é adjunto e dos Assuntos Parlamentares mas que, de facto, chefia o Governo, disse que "Portugal é forte quando olha para o mundo", acrescentando que "a vocação do Atlântico Sul é a vocação da nossa história".
Apesar de aparentar alguma erudição, Miguel Relvas e a sua equipa estão sem ideias, sem planos, sem convicções e, embora vivendo todos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, sendo todos metades do mesmo zero, não cabem todos duma vez na sala onde está a manjedoura.
Para o ministro Miguel Relvas, vive-se "um tempo de incerteza em Portugal como em toda a Europa" e o país "precisa necessariamente de exportar e precisa de encontrar novos mercados".
É verdade. Embora a cotação seja fraca ou nula, se calhar os portugueses até não se importariam de fazer um esforço, mais um, para pagar alguma coisa a quem levasse do país (se possível para sempre) os protagonistas de “um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País”.
Relvas aconselha que esses mercados não sejam "os que vivem hoje no mesmo mar de incertezas em que nós nos encontramos", referindo que a situação de Espanha deve preocupar Portugal.
Miguel Relvas recordou a sua recente viagem a Moçambique e disse ter apreciado em Maputo, em contacto com jovens licenciados portugueses que trabalham no país, a sua maneira de "ver o mundo com outros olhos" e a sua "capacidade de se adaptarem" a novas realidades.
O ministro fez bem em ir a Moçambique. Nada melhor para mostrar aos portugueses como é hoje o seu país do que, seja onde for, lá mandar os seus donos. Que os portugueses hoje, como ontem e obrigatoriamente como amanhã, sabem adaptar-se com facilidade, é uma verdade histórica. Mas, por regra, também sabem distinguir os calcinhas que os querem transformar em matumbos como exímios camanguistas que são.
"Temos uma adaptabilidade de tal forma que nos permite estarmos nas Américas, na Ásia ou nas Áfricas como estamos no nosso continente ou no nosso país", afirmou Relvas num rasgo de quem se julga igual ao Poeta que disse “De África tem marítimos assentos / É na Ásia mais que todas soberana / Na quarta parte nova os campos ara / E se mais mundo houvera, lá chegara!”.
A verdade, contudo, é outra. Se o valor dos portugueses se medisse pelo nível dos seus políticos, Miguel Relvas amesquinhava-os totalmente.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: PORTUGUESES SORRIEM CADA VEZ MENOS
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