Martinho Júnior, Luanda
A MINHA TORRE É MAIOR QUE A TUA!
A cidade capital de Angola, que se aproxima dos 500 anos de existência, está marcada por construções de vários séculos, desde aqueles que se referem ao período remoto e terrível da escravatura aos que compõem a manifestação de neo liberalismo dos nossos dias.
Há edifícios que foram construídos no tempo da primeira ocupação e desembarque, como as fortalezas de Luanda e a capela de Nossa senhora da Nazaré;
Há edifícios como o do Museu da Escravatura e o Palácio de Dona Ana Joaquina, dos tempos da escravatura;
Há os edifícios que foram construídos durante o colonialismo do tempo do comércio da borracha, numa época em que o presídio de Malange era a fronteira leste de Angola, como muitas casas que polvilham ainda a Rua dos Mercadores, tão mal cuidada;
Há edifícios que se referem ao tempo do início da Revolução Industrial, como o Palácio de Ferro, obra de Heiffel, à espera de melhores dias no comércio de diamantes (a ENDIAMA patrocina o seu restauro);
Há aqueles que são expoentes do período áureo do café, como o Hotel Luanda, que está esventrado e à espera de recuperação, ou como o próprio Banco Nacional de Angola, ex-libris postal;
Todos esses edifícios são construções robustas, que vão desafiando os tempos.
Angola é um país imenso e o que seria recomendável seria dar espaço a urbanizações extensas, inclusive nas cidades, mas o colonialismo enfermou sempre de mentalidade à medida da “mãe pátria”: edifícios com pouco mais de um andar, em talhões reduzidos que deveriam ter sido desde logo muito mais amplos.
Quando no final do colonialismo alguns ousados foram enriquecer-se com os diamantes, surgiram edifícios com bastante altura, sobretudo na Marginal: o Hotel Presidente, o edifício dum banco, onde está hoje o BPC, surgidos já na década de 70…
Depois da independência quase nada se fez, pois as guerras impediram o florescimento.
Desde 2002, altura em que se registou o fim dos tiros, que a febre da construção alcançou índices nunca antes observados na história da baixa de Luanda.
Da época da globalização neo liberal, desde os edifícios que directamente se referem aos diamantes (Endiama e De Beers), até aos que se referem ao petróleo (edifício SONANGOL e algumas torres, entre elas a do Grupo Carlyle também situada na Rainha Ginga), até à torre CIF dos chineses de Hong Kong ligados a capitais privados norte americanos, às torres do Banco Espírito Santo (Ricardo do Espírito Santo Salgado é tido como um dos banqueiros portugueses do Bilderberg) e aos modernos hotéis construídos por capitais árabes, há de tudo.
As heranças do passado estendem-se aos dias da globalização neo liberal, só que, se alguns edifícios mais representativos resistem, no lugar onde haviam modestas construções térreas, de um, ou dois pisos, agora a propensão é para a construção de impressionantes “torres”, que “marcam a diferença” e as profundas assimetrias e desigualdades, disputando quintais que sofreram a inflação e a especulação dos preços.
Eles disputam as alturas e cada grupo parece estar em competição com o vizinho: o meu prédio é mais alto que o teu!
Alguns membros da cada vez mais poderosa nova elite angolana estão a alinhar com a febre de construções megalómanas que distinguem a globalização neo liberal em Luanda do resto, pois o “apartheid” do “modelo” faz-se sentir também na arquitectura e na engenharia da “nova” capital angolana, da sua baixa: as Torres do Carmo passaram das mãos dum “reconhecido” grupo de ex-generais para as mãos da poderosa BP!... simples mas significativo, diriam no tempo da outra senhora!...
Crescem no cimento e no betão, mas com o fim do patriotismo e o advento do “mercado” da globalização, minguam naquilo que vai por dentro de suas cabeças e se expande de suas vontades!
…Coisas que a globalização tece!...
1 comentário:
TORRES DO CARMO - http://www.engexpor.pt/pt/index.php?id=4&menu=6&submenu=12&pag=0
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