sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Duas em uma: DA VIDINHA À PORTUGUESA ATÉ À TOLICE E INGENUIDADE



A vidinha à portuguesa ‘on-line’

Carlos Fonseca - Aventar

Um homem chega à casa. Janta em paz e conversa com a família, sem ligar a noticiários ou entrevistas televisivas. Acaba a pitança, senta-se diante do computador, acede ao ‘Público’ on-line e dá de caras com estas notícias:


Bolas, o que é isto? Interroguei-me. De uma rajada, quatro notícias perfiladas segundo o actual ‘design’ nacional. Há funcionários anónimos suspeitos de corrupção – já não bastavam os mediáticos!; temos a ingrata Holanda, para onde no passado encaminhámos judeus aos montes, a fazer concorrência desleal em garantias às iniciativas privadas; ficámos informados de que há um escritório condenado a pagar 2,5 milhões de euros – sim o título diz que é um escritório! – e, no fim, revelam-nos uma frustrada jantarada maçónica entre o líder parlamentar ‘laranja’, o pessoal da Ongoing e mais uns quantos notáveis. Para o ramalhete jornalístico ficar completo, faltou uma noticiazinha, pequena que fosse, a anunciar eleições para a Direcção Espiritual da ‘Opus Dei’.

Vendo bem, a minha estupefacção é injustificada. Como dizia o Eça, este País sempre foi e será assim; ou visto através de outra lente literária, a tese da clivagem social entre os vulgares e os invulgares, defendida por Raskólnikov em “Crime e Castigo”, tem neste recanto e nas suas terras pingadas no Atlântico o laboratório experimental que a personagem de Dostoiévski imaginou.

Servindo-se de feios, porcos, maus, lindos, partidos e inteiros, os jornais limitam-se a narrar ‘on-line’ a vidinha à portuguesa. E dela não sairemos tão depressa, a menos que… alguém quebre o galho.

Presidente dos EUA = Presidente da Guerra


Quando Obama foi eleito muitos exultaram e chegaram a falar em novo mundo e nova ordem mundial.

Tolice e ingenuidade.

O presidente dos EUA, seja ele quem for, é o presidente de um império que tudo fará para se perpetuar como tal. O presidente dos EUA é, acima de tudo, o presidente da potência que, desde a 2ª Guerra Mundial, se afirma pela força das armas para estabelecer os desequilíbrios que lhe sejam estrategicamente convenientes, independentemente dos valores que a discurso oficial americano possa, num momento ou outro, propalar. Acontece que, após a Guerra Fria, o mundo se tornou mais ameaçador para os EUA, com menos aliados seguros e inquestionáveis, com mais frentes de "consolidação" da sua força, com maior dispersão de vontades e de movimentações. Assim, de "vitória em vitória", as forças militares americanas foram-se exaurindo e exaurindo os cofres do estado, ainda que para benefício dos grandes interesses privados e senhores da guerra internos.

Obama, o presidente do país que mantém a sua supremacia pelo recurso ao aparelho militar, é, neste contexto, obrigado a redefinir prioridades e, sobretudo, a redimensionar o dispositivo bélico. Além disso precisa de focalizar e concentrar-se no único país que poderá a médio prazo substituir a América como próximo império mundial. E veio dizer, se tal fosse preciso, que os EUA não perderão a hegemonia pela via paz ou, por outra palavras, que enfrentarão pela guerra e pelas armas qualquer desafio à sua posição de império mundial. E veio, claro, desmentir quem - Academia Nobel, etc.- pensasse que poderia ser diferente nas atitudes, nos processos e no xadrez internacional. O cargo de presidente dos EUA depende pouco da pessoa que o exerce.

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