Miguel Portas - Sol, opinião
O programa eleitoral do PSD para as eleições regionais da Madeira foi agora conhecido.
Dois meses e meio depois das eleições. Agora, já se percebe porque é que Passos Coelho nem queria ouvir falar desse assunto durante a campanha eleitoral. O populismo e o clientelismo são sempre uma boa receita até ao dia em que chega a factura.
O programa é draconiano e vai aos do costume: cortes salariais, superaumento do IVA e do Imposto sobre Produtos Petrolíferos, 15% a menos para Educação e Saúde, tecto para o investimento público. Tudo isto numa região afectada por rendimentos baixíssimos e que suporta custos relacionados com a insularidade. E com o off-shore ali tão perto, como que para lembrar como o discurso moralista da austeridade é tão selectivo.
O que se segue não vai ter surpresas. Quem pensa (e continuam a ser muitos, cá e lá) que, sangrando uma economia, ela vai recuperar as suas forças e enfrentar o seu endividamento, será persistentemente confrontado com o seu equívoco. Sem riqueza não se pagam dívidas.
Desse ponto de vista, não é muito relevante que o ‘buraco’ da Madeira tenha origens diferentes (pelo menos, em parte) do endividamento nacional. De pouco vale castigar a Madeira. Esse castigo irá punir a maior parte dos madeirenses, mas não os culpados, sejam eles madeirenses, continentais ou de outro sítio qualquer.
O que é mais perturbante é que nem depois deste descalabro político e orçamental se ouve falar da investigação imprescindível e da responsabilização de quem conduziu, aliás com mão-de-ferro, os destinos da Madeira e não divide com ninguém as culpas a atribuir. Ou seja, depois da catástrofe, tudo poderá continuar como se nada tivesse acontecido.
Esse é o grande silêncio do debate sobre o ‘buraco’ da Madeira. Muito bem: os madeirenses escolheram Jardim. Mas, para que um ‘buraco’ daquelas dimensões se pudesse acumular, foi imprescindível a conivência activa de sucessivos governos da República. O ‘buraco’ que os madeirenses são agora chamados a pagar é responsabili- dade dos desvarios de um irresponsável? Sim. Mas também da incúria ou cumplicidade dos que no continente tinham a responsabilidade de o travar. Em política, nem os loucos podem ser inimputáveis.
Neste cenário, Alberto João Jardim, sempre sem medo do ridículo, veio dizer que não se concretizaram os ‘catastrofismos’ das ‘forças hostis ao povo da Madeira’. Essa insólita declaração é pelo menos útil para identificar quais são as forças hostis ao povo da Madeira: Alberto João Jardim e os que no Continente o apoiaram e continuam a cobrir. Esses são responsáveis. E são incorrigíveis.
Sem comentários:
Enviar um comentário