Lusa
Macau, China, 22 jan (Lusa) - A azáfama é grande para receber o Ano do Dragão em Macau, com as últimas horas antes do jantar em família aproveitadas para comprar flores e petiscos para adornar a casa e adoçar a boca dos convidados.
Mei Chan, nascida e criada em Macau e com 14 anos de Portugal, já fez as compras todas e não se importa de servir de guia nas tradições do Novo Ano Lunar chinês.
Estamos no Fai Chi Kei, o bairro mais densamente povoado de Macau e um dos mais típicos chineses, na parte norte da Península, apesar de pertencer à freguesia bem portuguesa de Nossa Senhora de Fátima.
É lá que fica o Mercado Vermelho, um dos ícones dos guias turísticos, mas é nas ruelas que começam na Rua da Emenda que os locais, entremeados por muito poucos estrangeiros, se atropelam para colmatar as últimas faltas de casa.
Vêem-se passar tangerineiras pequenas dentro de vasos, narcisos, pessegueiros... Vermelho, laranja, amarelo, "quanto mais vivo melhor", diz a tradição na voz de Mei, para dar "sorte" e trazer "fortuna".
Primeiro faz-se "uma limpeza da casa, normalmente dois dias antes da véspera do ano novo", para afastar os maus espíritos. "E depois decora-se com plantas para dar sorte", explica, ao lembrar que o florescimento de cada uma dentro de portas tem significados diferentes, mas sempre associados à ideia de prosperidade, felicidade e riqueza.
E como a mesa para receber os convidados também tem de ser "farta, doce e colorida", facilmente se percebem as filas nas bancas dos doces e frutos secos.
Mas o que não pode faltar no jantar que dá as boas vindas ao novo Ano Lunar? "Na mesa costumamos pôr petiscos, o bolo chinês, bolo do ano novo ou bolo de nabo. Isso é que não pode faltar. E o resto é petiscos tradicionais, como frutos secos, conservados com açúcar. Por exemplo, as raízes de Lótus e coco", diz, não resistindo a pôr a mão no saco das sementes.
Os rebuçados também têm sempre lugar à mesa e não se pense que são só para a criançada: "Também temos de pôr muitos rebuçados na mesa para servir os visitantes durante o ano novo", esclarece.
Mas a noite em que se troca de Ano Lunar é especialmente generosa para os mais pequenos, porque recebem dos pais os tradicionais "lai-sis" - envelopes vermelhos com dinheiro - que entre adultos só podem ser trocados a partir do primeiro dia do ano, explica a "guia" entre mais uma paragem.
De repente irrompe: "Está a ver aqueles dísticos vermelhos e dourados? Também não podem faltar pendurados ou colados nas portas. E só se tiram quando ficam velhinhos", ensina, antes de voluntariamente desatar a traduzir as mensagens: "Este é para pedir para ser abençoada. Este é para subir nos estudos. Este significa 'cheia de ouro'".
E entre o som dos panchões a rebentar - cartuchos de pólvora, outra das tradições da época festiva -, ouve-se um Kung Hei Fat Choi" (que traduzido significa "prosperidade neste novo ano") com sotaque português.
Os equipamentos desportivos denunciam-nos e o jeito brincalhão ainda mais: São os novos reforços brasileiros do plantel do Monte Carlo, uma das equipas de futebol locais, há um mês em Macau e prestes a passar o seu primeiro "Ano Novo Chinês".
Vieram com o técnico português Paulo Bento às compras para o jantar e a seguir também vão comemorar.
"Vamos encontrar com os nossos amigos chineses. Vamos até ao centro, brincar com eles e todo o mundo junto, com o nosso estilo brasileiro", atirou o avançado de 27 anos, Fabrizio Lima.
Não há tempo a perder porque o Dragão está quase a chegar. "Kung Hei Fat Choi" para a despedida, desta vez em coro. Os caminhos da "guia" chinesa e do plantel luso-brasileiro separam-se, mas a festa, essa, ainda agora começou.
O Ano Novo chinês, também conhecido como Festa da Primavera ou Ano Novo Lunar é uma tradição com mais de 2.000 anos e a mais importante e colorida festividade em qualquer ponto da China.
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