quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

"Os sul-africanos geralmente não sabem nada do preço pago por Moçambique”, AFP



Rádio Moçambique, com foto

O centenário do Congresso Nacional Africano (ANC), em 2012, celebra a luta heróica contra o apartheid, na qual o sacrifício de países vizinhos, menos conhecido, mas que não foi pouco, escreve hoje (terça-feira) o corresponde da AFP para a África Austral.

Os Estados africanos pagaram caro, a sua recusa de comercializar com a África do Sul racista ou de servir como refúgio aos então guerrilheiros do ANC.

O ano de 1960 marcara para ANC, partido no poder na África do Sul, o início do exílio.

O partido continuara interdito até 1990 e durante todo esse período, a Zâmbia, Angola, Moçambique, Namíbia, e Zimbabwe figuravam, em graus diversos, como os martirizados das incursões do exército sul-africanos ou submetidos a atentados cmetidos pelo regime do apartheid, da minoria branca para desestabilizar o ANC.

"Os sul-africanos geralmente não sabem nada do preço pago por Moçambique. Não falo somente da sabotagem económica e da morte do seu presidente", disse à AFP o antigo juiz constitucional Albie Sachs e simpatizante de longo tempo do ANC.

Acrescentou que "houve vários combardeamentos e a guerra civil. Simplesmente porque Moçambique apoiava a luta contra o governo sul-africano".

A partir da sua independência em 1975, Moçambique alberga campos do ANC até 1984. Em represália, a África do Sul levava uma guerra punitiva, apoiando o movimento de Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e alimentava uma guerra civil que durou de 1977 a 1992, e da qual Moçambique continua ainda hoje se resente. Ele está entre os países muito pobres do mundo.

O seu presidente Samora Machel, pai da independência e antigo guerilheiro marxista, foi morto em 1986 na queda do seu avião e se inquérito da Justiça sul-africana concluiu na época um erro de pilotagem, a tese de um atentado organizado pela África do Sul nunca foi totalmente afastada.

Sachs, ele mesmo, perdeu um braço num atentado à sua viatura armadilhada em 1988 em Maputo, onde era docente da universidade.

O Zimbabwe, que conheceu também um regime similar ao apartheid até a sua independência em 1980, não se conta o número de incursões do exército sul-africano.

O ANC ligou-se em 1967 com a guerilha anti-colonial e juntou-se nos combates contra o regime que estava no poder na Rodésia do Sul.

"Num certo momento, nós agiamos em conjunto para acabar o colonialismo na Rodésia e certamente, com a ideia que o ANC pretendia a pôr fim o apartheid na África do Sul", explicou.

O apoio ao ANC afectou consideravelmente a economia do Zimbabwe independente, historicamente ligada ao seu vizinho, nomedamente as minas.

A Zâmbia, sede do ANC no exílio à partir de 1967, onde ex-presidente Thabo Mbeki escapara a uma tentativa de assassinato, o país colocou também os seus recursos para acolher os exilados e fiananciar a sua defesa, em detrimento das necessidades básicas da sua população, estimou em 2000 um relatório do Centro de Reflexão Teológica Jesuíta , sob título "o apartheid, fonte de endividamento".

O Malawi, sob a ditadura de Kamuzu Banda, foi um mero observador e decidira que era melhor "cooperar com o diabo para preservar a sorte do país", segundo o historiador malawita Desmond Dudwa Phiri.

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