terça-feira, 17 de janeiro de 2012

PASSOS COELHO ACHA QUE ESTÁ A GOVERNAR?





Pedro Passos Coelho respondeu ao calor das suspeitas levantadas sobre as nomeações de administradores para a EDP e Águas de Portugal e tentou demonstrar que fez muito menos nomeações do que os Governos anteriores, com práticas incomparavelmente mais transparentes.

Mostrando números, mapas e gráficos, o primeiro-ministro garantiu que, num universo de 1024 nomeações, só cerca de 208 corresponderiam a entradas de novas pessoas, todas as outras seriam reconduções. E jurou que as escolhas da EDP foram feitas exclusivamente pelos seus acionistas, sem interferência do Governo, enquanto na Águas de Portugal a nomeação de dois autarcas - um deles em conflito de milhões de euros com a empresa - correspon- deria a uma intenção política assumida e clara, para aproximar quem gere a água deste país de quem está ligado às populações que a bebem.

Eu estava lá, vi e ouvi, e acreditei, sem malícia, que Passos achava mesmo que estava a falar verdade. E isso preocupou-me.

Dois dias depois da conferência do DN, onde o líder do Governo tentou clarificar este assunto, e já depois de invetivado pela oposição, o seu ato político até parecia estar a passar bem. Eis que um dos sujeitos da polémica, não só pela escolha em si (suspeita, com a da militante do CDS-PP, Celeste Cardona, de ter a sustentá-la uma motivação partidária clientelar), mas também pelo salário milionário em tempo de crise - 45 mil euros mensais - que a imprensa garantia ir ser pago, resolve falar. E Eduardo Catroga disse tanto que motivou o semanário Expresso a titular esta sua frase, aparentemente cheia de veneno: "Não sei como Celeste Cardona apareceu na lista"... A suspeita de traficância política numa empresa privada voltou, inevitavelmente, a adensar-se.

E, domingo à noite (porquê domigo à noite, porquê trabalhos forçados?!), o próprio site do Governo, onde se diz exercer a transparência, acaba a colocar um manto negro e opaco de dúvida sobre os números avançados por Passos Coelho com uma atualização que "por motivos técnicos" omite dados dos ministérios da Economia e da Segurança Social, mas onde se conclui que já há cerca de 580 reconduções, de onde se presume que houve, afinal, mais de 600 novos beneficiados com um empregozito no Estado.

Para além do óbvio forrobodó de tachos que toda esta trapalhada revela - mas que é um clássico da nossa democracia -, a novidade trágica de toda esta história é esta: Passos Coelho julga que governa mas não, está é a ser governado.

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