Jornal de Notícias
Otelo Saraiva de Carvalho insistiu, esta quarta-feira, que o desagrado popular pode conduzir a um golpe de Estado pelos militares, mas, reconhecendo não haver condições para isso, admite que dependerá dos efeitos da nova lei geral do trabalho.
Durante uma cerimónia de homenagem promovida pela autarquia de Castelo de Paiva e pela Associação de Combatentes do Ultramar Português, o militar de Abril manteve o sentido das declarações proferidas em Novembro, que motivaram um inquérito do Ministério Público: "Mesmo em Democracia, quando são ultrapassados determinados limites, as Forças Armadas têm por dever derrubar o Governo, se ele entrou num estado ditatorial, que provoca um sofrimento enorme ao País".
Apesar de não ver reunidas as condições para um golpe de Estado, "pelo menos por enquanto", o coronel acrescentou que "tem que haver consciência nos militares, que, representando o último bastião do Poder em armas, (...) têm a obrigação moral de defender os interesses do povo".
Otelo Saraiva de Carvalho considerou que "não estão ainda criadas condições para que os militares de hoje possam assumir a responsabilidade de se lançarem numa representação do povo em armas", mas avisou: "Os limites só podem ser definidos pelo panorama político que se desenrolar, por exemplo, a partir de agora, com a nova lei geral do trabalho".
Quem definirá esses limites, disse, são "as massas trabalhadoras", junto das quais entende que os sindicatos funcionam como "uma almofada de contenção da insurreição popular". Por isso reconheceu: "Ainda não vi nenhuma manifestação popular que possa ser considerada de tipo insurreccional", avançando que "Portugal é um país de brandos costumes".
Sobre o Governo, especificou que Portugal "tem um primeiro-ministro que é um tipo giro, mas por trás dele também estão empresas", entendendo que "ele está apenas a executar aquilo que lhe dizem, subordinado aos ditames da 'troika'".
Para Otelo Saraiva de Carvalho, "no dia em que os limites forem ultrapassados, o povo é que o saberá sentir".
Quanto ao teor das suas declarações, que já provocaram polémica por serem entendidas como um apelo ao tumulto, o 'militar de Abril' defende que a 'Revolução dos Cravos' teve como um dos seus objectivos garantir-lhe precisamente esse direito: "O de poder dizer as alarvidades que eu quiser, porque o que eu digo é a minha opinião e, num país livre, eu não posso ser condenado por expressá-la".
Insistindo, argumenta que "tem direito a tê-la, mesmo que ela seja contrária a todas as outras", realçando: "E a minha opinião é que, para derrubar o poder político, em qualquer país do mundo, os trabalhadores não podem fazê-lo sem recurso à violência, que é algo que a burguesia teme".
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