Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
Maria José Morgado diz que no topo da pirâmide da corrupção está a "corrupção de Estado" e dos partidos políticos, sendo esta mais difícil de investigar devido ao seu grau de sofisticação.
E se a corrupção fosse crime (será que é?) dir-se-ia que o Estado e os partidos são os principais antros criminosos. Parto, é claro, do princípio de que a directora do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa não estava a ver a pirâmide invertida.
Maria José Morgado disse, na conferência "Ministério Público e o Combate à Corrupção", promovida pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), que não convém esquecer que "os menores salários", com os cortes nos subsídios, "trarão necessariamente maior vulnerabilidade na administração pública e nos serviços do Estado" em matéria de corrupção.
A falta de meios periciais do Ministério Público para investigar a corrupção e outros crimes económico-financeiros chega a ser "ridícula" na opinião da directora do DIAP de Lisboa, que defendeu que o MP "não pode ter uma autonomia de mão estendida", precisando de pedir meios e recursos consoante cada um dos processos.
Por seu lado, Cândida Almeida, directora do DCIAP, partilhou das preocupações de Maria José Morgado quanto aos meios, referindo que a falta de recursos não permite muitas vezes "chegar ao fundo" na investigação dos casos mais graves e complexos.
Questionada sobre investigações complexas em curso, Cândida Almeida assegurou que o inquérito ao caso da aquisição por Portugal de dois submarinos à empresa alemã Ferrostal continua em "andamento", bem como o caso do desvio orçamental detectado na Madeira.
Ainda pensei que, eventualmente, se poderia pedir ajuda aos Serviços Secretos, nacionais e internacionais, para tentar apanhar os responsáveis.
Mas não. Os nacionais andam entretidos a trespassar as lojas da Maçonaria e a fornecer informações aos impolutos empresários do reino daquém e dalém mar. Os outros dizem que não vale a pena cooperar com os seus congéneres lusos (por excesso de credibilidade destes) nem pôr em dúvida a honorabilidade dos dirigentes do Estado e dos partidos.
Creio, contudo, que a solução estará para breve. Como sempre, descobrir-se-á que a culpa ou é da mulher da limpeza (se possível africana e negra) ou do arrumador de carros (se possível negro e africano).
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: UM PARA MIM, OUTRO PARA TI. TACHOS, É CLARO!
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