FV - Lusa
Hong Kong, China, 14 fev (Lusa) - No coração financeiro de Hong Kong, o Clube Lusitano é a casa dos luso-descendentes na antiga colónia britânica há quase 150 anos, e nos últimos tempos registou grandes mudanças, como a abertura de portas às mulheres e a outras comunidades.
"Temos vindo a modernizar-nos e já temos uma mulher no comité geral", começou por dizer à Agência Lusa o presidente do Clube Lusitano, Francisco Da Roza.
A frase ouvida parece distante do século XXI, por isso, o atual líder do clube reforçou: "Estamos cada vez mais civilizados, e ficaremos totalmente (civilizados) quando tivermos uma mulher presidente".
Fundado a 17 de dezembro de 1866 pelos portugueses de Macau J.A. Barreto e Delfino Noronha, pouco tempo depois da Guerra do Ópio, o Clube Lusitano floresceu com os emigrantes macaenses que foram trabalhar na antiga colónia inglesa.
Considerada também a primeira casa macaense no exterior, viu depois partir para a diáspora muitos membros, que trocaram o Delta do Rio das Pérolas pelas longínquas paragens da Europa (incluindo Portugal), América (Canadá) ou Austrália, nas décadas de 1970 e 1980.
A vaga de emigração da comunidade deixou marcas e, hoje, o clube de cerca de 400 sócios - entre banqueiros, advogados, médicos e gestores - é formado maioritariamente por membros radicados fora da antiga colónia inglesa, sendo também a 'casa longe de casa' de ingleses, franceses ou italianos.
Testemunho vivo da história de Hong Kong, como a passagem da administração inglesa para a chinesa em 1997, o Clube Lusitano foi ele próprio protagonista de uns quantos capítulos no distrito financeiro de 'central', onde se instalou com vista para a casa do governador (hoje do chefe do Executivo) e Banco da China, entre outros.
Receções, exposições, e apoios a atividades desportivas entretanto retomadas - como a corrida de cavalos do Jockey Club de Hong Kong -, marcaram a ata do clube também conhecido pela gastronomia portuguesa e macaense, e ao qual personalidades da elite de Hong Kong deram o seu contributo, como Arnaldo Oliveira Sales, que lhe presidiu durante mais de 30 anos, além dos cargos acumulados no 'Urban Coucil' e Comité Olímpico do território.
Francisco Da Roza, - nascido em Xangai e com os estudos secundários iniciados em Macau -, chegou à presidência do Lusitano em 2010 e o seu projeto de "modernização" passa por atrair a nova geração que tem chegado à China e a Hong Kong, e pela aproximação ao tecido empresarial da China e países de língua portuguesa.
"Temos de atrair sangue novo. É difícil quantificar a comunidade [portuguesa], mas há vários exemplos: um dos nossos fornecedores é um jovem luso-descendente radicado na China", explicou o sócio do Clube Lusitano há mais de 30 anos.
O antigo financeiro nunca foi a Portugal mas, não só carrega o orgulho português no nome, como o passou a cada um dos três filhos que apresenta na foto de família guardada na carteira. O nome e a "responsabilidade social", pois, cumprindo a tradição de quatro gerações, o seu filho mais velho, António, também já é membro do Lusitano.
"Estamos orgulhosos por a nossa história também fazer parte do desenvolvimento de Hong Kong. É um feito dos nossos antepassados que queremos continuar a publicitar, assim como o papel dos portugueses e da comunidade portuguesa na região", disse.
Investimentos em Portugal são "forma de pôr o dinheiro a render" - presidente do Clube Lusitano
Hong Kong, China, 14 fev (Lusa) - O presidente do Clube Lusitano em Hong Kong considera que a China investe em Portugal para "pôr o seu dinheiro a render", aliada a uma estratégia política de relação com diferentes países.
"Acredito que a China pensa que é uma possibilidade de pôr o seu dinheiro a render", disse Francisco Da Roza à Agência Lusa a propósito dos negócios com Portugal, onde se destaca a compra em dezembro de 21,35 por cento da elétrica EDP pela China Three Gorges Corporation por cerca de 2,7 mil milhões de euros.
Além dos setores estratégicos, o presidente do Clube Lusitano destaca "oportunidades" nos mercados financeiros, "particularmente porque a China está interessada em promover a sua moeda como meio de troca".
"O yuan está a tornar-se importante e irá apresentar oportunidades interessantes", defendeu.
Com uma carreira construída nas principais praças financeiras internacionais, desde Nova Iorque, a Sidney e Hong Kong, Francisco Da Roza salientou que o facto de a China arriscar em Portugal numa altura em que outros países o temem não pode ser dissociado da vertente política.
"A China está interessada em construir essas ligações via negócios e, claro, a dada altura isso também acontecerá a nível político", observou, ao destacar que o país asiático "está a aprender a desempenhar o seu papel no palco mundial", nomeadamente através das "ligações com diferentes países".
"A China está a ganhar terreno lentamente, mas de forma bastante sensível", acrescentou o sócio do Clube Lusitano há mais de 30 anos e presidente desde 2010.
Sobre a realidade portuguesa, Francisco Da Roza salientou que "Portugal tem um longo caminho a percorrer porque estruturalmente tem de mudar para ser competitivo". E além das "oportunidades das ligações às antigas colónias", e da exportação de produtos tradicionais como o vinho, destacou o potencial de outras áreas, como a tecnológica.
"Claro que os produtos tradicionais ainda continuam bastante competitivos porque são negócios com um longo historial, mas os tempos estão a mudar e estou bastante feliz por Portugal ser, ele próprio, um líder em muitos campos da inovação tecnológica. Este aspeto de negócio de Portugal não é tão conhecido e devia ser feito um maior esforço em publicitá-lo", afirmou.
Para Francisco Da Roza, Portugal deve ainda colocar as várias áreas em que se destaca ao serviço da promoção do país, da cultura ao desporto.
"Portugal não tem um grande historial no rugby, mas está a jogar muito bem. O facto de a seleção portuguesa vir a Hong Kong [participar no torneio 'Sevens', em março] podia ser usado para publicitar Portugal", sugeriu.
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