quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

NO “PAICV/FACÇÃO NEVES” O CRIME COMPENSA



Liberal (cv), editorial

E o exemplo do Primeiro-ministro ali está como sinal de que a porta está aberta aos oportunistas, aos sugadores do erário público, aos habilidosos que encontraram na política um meio para subir na vida a qualquer preço

Como já tivemos ocasião de referir [“Democracia contra salteadores”], parece que na 26ª democracia do mundo se convive bem com a trapaça, a corrupção e mesmo a mais descarada roubalheira. Aludimos, então, ao caso do próprio Primeiro-ministro que, descaradamente, ocupou terreno do Estado, aceitou como prenda uma casa e utilizou fundos do tesouro para acorrer às dificuldades financeiras de uma “amiga especial”, entre outros expedientes nunca justificados e publicamente conhecidos. E isto ao mesmo tempo que JMN tem sempre a boca cheia de supostos princípios éticos e auto-elogios de seriedade.

Mas no reino tambarina há muitas outras figuras. José Maria Veiga é hoje levado ao colo pela nomenclatura nevista, depois de recuperado que foi de travessia do deserto, após ter sido acusado – pelos próprios camaradas - de falcatruas na Câmara Municipal da Praia quando ali era o número dois de Filú.

Vereador do Urbanismo, José Maria Veiga gabava-se, quando os primeiros alvores do escândalo emergiram, de ser “o braço direito do presidente” e afirmava peremptório: “somos uma dupla muito forte e, por isso, somos invejados por muitas pessoas”… O certo é que Filú o retirou da lista do PAICV nas eleições seguintes e, segundo se sabe, deixou de falar com Veiga.

Não, as acusações nem partiram da oposição como seria suposto. Foram os próprios militantes do partido tambarina a lavrar acusações públicas. Margarida Delgado, mulher do ex vice-presidente da Assembleia Nacional, Josefá Barbosa, conhecido e destacado militante do PAICV, deitou o dedo na ferida aberta e não se acanhou nas denúncias. Segundo ela, José Maria Veiga remeteu-a à marginalização por, alegadamente, estar envolvido em irregularidades que a militante não calava. Aliás, porque a memória não é coisa que se nos apague, Margarida Delgado tornou publico uma carta em que denunciava o envolvimento de Veiga no favorecimento e falsificação de plantas e em negócios com lotes para construção. Porém, até hoje, os tribunais nada decidiram, permitindo que um “artista” desta natureza continue a insultar a inteligência das pessoas com supostas virtudes que só mesmo ele arvora. E, como também se sabe, Margarida não respondeu em juízo por qualquer alegado crime de “difamação”.

O certo é que, após travessia do deserto decorrente de proscrição partidária, José Maria Veiga foi recuperado por JMN e elevado à qualidade de ministro, sem que nada tenha sido esclarecido, sem que as acusações tenham sido dadas como não provadas.

Não é estranho, este “PAICV/facção Neves” é pródigo em premiar corruptos e favorecer bandidos. E o exemplo do Primeiro-ministro ali está como sinal de que a porta está aberta aos oportunistas, aos sugadores do erário público, aos habilidosos que encontraram na política um meio para subir na vida a qualquer preço. José Maria Neves gosta de dar a mão a quem a mete onde não deve. Marisa Morais foi promovida a ministra depois de estar envolvida no escândalo do “saco azul” do Ministério da Justiça, e idem aspas para Júlio Martins que elevou-se à posição de Procurador-geral da República.

Na Alemanha, por razões bem menos graves, Christian Wulff demitiu-se da presidência; em Cabo Verde, o crime compensa e a democracia é uma farsa ao serviço dos “habilidosos” que rodeiam o Primeiro-ministro!

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