André Macedo – Dinheiro Vivo
Passos Coelho diz que Portugal não precisa de um novo resgate. Diz bem, mas não diz a verdade, politicamente não a pode dizer. Com os juros da dívida pública de longo prazo nas estrelas – acima dos 15% enquanto a Alemanha paga pouco mais de 2% –, com Portugal em recessão profunda (menos 3,1%) a liderar, braço a braço com a Grécia, a recessão que também se alastra na Europa, não restam muitas hipóteses a Passos Coelho.
É verdade: daqui até Maio de 2013, altura em que se fecha o guarda-chuva da troika, tudo pode acontecer. Podem chegar as eurobonds, o milagre mais desejado, ou a Zona Euro pode saltar da recessão para um crescimento chinês, um milagre ainda mais estapafúrdio. Mas como nenhum destes cenários é na verdade provável, o primeiro-ministro sabe que o tempo corre contra ele e contra o país.
Passo Coelho não pode dizer já que o dinheiro não chega, iria parecer grego. Tem de mostrar que está a cumprir zelosamente o acordado com a troika e parecer 100% germânico no rigor. E finalmente tem preparar-se para que, um dia destes, Vítor Gaspar lhe diga que não é razoável esperar mais e que é necessário um novo pedido de resgate.
Este momento, o momento da verdade, será o momento José Sócrates de Passos Coelho. Não poderá continuar a adiar mais a decisão e, um dia, lá o veremos na televisão a dizer o que, infelizmente, deverá acontecer: novo resgate, novo pacote de austeridade, mais soberania perdida e uma série de anos a viver de mesada. Compreende-se, por isso, que tente resistir até ao limite das suas forças a este instante que lhe pode custar as eleições.
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