Leonardo Sakamoto – Blog do Sakamoto
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos publica uma lista de indivíduos e empresas com os quais os norte-americanos estão proibidos de fazer negócios por estarem (segundo eles) relacionados com terrorismo, tráfico de drogas, produção de armas de destruição em massa ou pertencerem a países aos quais o Tio Sam impôs sanções. Esse pessoal está listado na “Specially Designated Nationals”, algo como “Cidadãos Especialmente Designados”, ou seja lá o que isso signifique do alto do eufemismo diplomático.
Ainda de acordo com eles, o objetivo é atacar o financiamento de ações que podem colocar em risco a segurança nacional (de lá) e melhorar a proteção ao sistema financeiro (também de lá).
A relação não é exatamente uma novidade. Mas pelo que foi possível apurar, há empresas e organizações sociais brasileiras que se relacionam com empresas e organizações dos Estados Unidos que receberam a lista de suas parcerias norte-americanas nas últimas semanas, com pedidos para verificar se recursos de lá estão sendo destinados para a SDN.
No Brasil, os nomes listados são principalmente de libaneses moradores de Foz do Iguaçu – a Tríplice Fonteira, região entre Argentina, Brasil e Paraguai, onde há uma comunidade muçulmana que tem sido alvo de acusações por parte do governo norte-americano quanto a suspeitas de “atividades terroristas”. Há também colombianos e residentes no Mato Grosso do Sul. Pelo que pude verificar, não há brasileiros natos. A SDN cita o nome de uma pessoa com suposto relacionamento com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Além de sua própria natureza polêmica – uma vez que há regimes não-democráticos ou empresas que fazem ecoterrorismo, como sujar o mar alheio de petróleo, apoiados pelos nossos vizinhos do Norte, que nunca entrariam numa relação por conveniência política ou econômica – isso traz à tona um outro ponto. A meu ver, um dos problemas das listas dos Estados Unidos é a falta de exatidão das informações. Qualquer jornalista que cobre a área internacional sabe que há um punhado de pessoas no Brasil com relacionamento com as Farc que não são criminosas por conta disso.
Um outro exemplo: nas relações sobre produtos com mão-de-obra escrava ou infantil por país que os Estados Unidos divulga anualmente, há dados que poderiam ser mais atualizados sobre os setores envolvidos. Ou cadeias produtivas realmente relevantes nesses quesitos que ficam de fora. O governo norte-americano, ao fazer esses relatórios, confia demais na imprensa como fonte. Sem tirar o mérito de nós jornalistas, gringos ou tupiniquins, que, de vez em quando, circulamos informação de qualidade, sabemos que parte do que é produzido na mídia é que nem nugget: se soubessem como é feito, ninguém consumia.
Para conhecer a lista, você pode baixar a relação dividida por país aqui. É também possível fazer uma busca, clicando aqui.
* Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Professor de Jornalismo na PUC-SP, é coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.
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