Jornal de Notícias
Um em cada quatro portugueses vivia, em 2010, em risco de pobreza ou exclusão social, um número ligeiramente superior à média europeia, segundo dados divulgados esta quarta-feira pelo Eurostat.
Os dados do Gabinete de Estatísticas da União Europeia (UE) indicam que a percentagem de portugueses a viver em risco de pobreza ou exclusão social aumentou de 2009 (24,9%) para 2010 (25,3%).
Estas pessoas encontravam-se em, pelo menos, numa das seguintes três condições: em risco de pobreza, em situação de privação material grave ou a viverem em domicílios com intensidade de trabalho muito baixa.
Comentando estes dados, o presidente da EAPN Portugal/Rede Europeia Anti-Pobreza afirmou à agência Lusa que estes números correspondem à realidade e que "a tendência é para aumentar".
"Ainda não temos dados, mas a situação já piorou em 2011", disse o padre Jardim Moreira, lembrando que "o desemprego leva necessariamente as pessoas a ficarem sem poder de compra" e, como consequência, alguns retiram os filhos da escola, outros emigram, entre outras situações.
"É um problema um bocado negro", comentou, acrescentando: "Quase todas as semanas, vemos empresas a fechar e, também quase todas as semanas, temos mais cortes, mais impostos. As pessoas aguentam, mas não sei até onde, vamos ver".
O dados do Eurostat referem que as crianças apresentam maior risco de pobreza e exclusão social do que o resto da população.
Na UE27, em 2010, 27% das crianças com menos de 18 anos foram afectadas, pelo menos, por uma das três formas de pobreza ou exclusão social, contra 23% da população em idade ativa (18-64 anos) e 20% dos idosos (65 ou mais anos).
As crianças foram as mais afetadas em 20 estados-membros, enquanto que os idosos eram os mais atingidos na Bulgária, Eslovénia, Finlândia e Suécia. Na Dinamarca, foi a população em idade activa a mais afetada.
Os dados do Eurostat não referem a situação portuguesa, mas o padre Jardim Moreira adianta que Portugal é um dos países com um índice mais elevado de crianças pobres (24%).
"Com os pais no desemprego, muitas crianças deixam de ter apoio alimentar, qualidade de vida e outras abandonam a escola", adiantou.
Para o presidente da EAPN, as crianças são as que "vão sentir mais rápido a pobreza familiar".
Os idosos também são afetados porque a família não tem recursos para os acompanhar e abandona-os, disse, alertando que, se a vizinhança não se preocupar com eles, correm o risco de morrerem sós por fome e abandono, como tem vindo a acontecer.
O padre Jardim Moreira disse ver "com muita preocupação a contínua caminhada para um empobrecimento colectivo" porque não vê solução para o problema.
"As pessoas ficam cheias de medo pela sua insegurança e algumas são menos capazes de pensar e partilhar com os outros", acrescentou.
Para o responsável, "a resposta à crise passa por uma mudança de atitude do coração das pessoas, de mentalidade e de comportamento".
Em 2010, 115 milhões de pessoas (23,4% da população) viviam em risco de pobreza ou exclusão social, sendo as percentagens mais elevadas registadas na Bulgária (42%), Roménia (41%), Letónia (38%), Lituânia (33%) e Hungria (30%) e as mais baixas na República Checa (14%), Suécia e Holanda (ambos 15%), Áustria, Finlândia e Luxemburgo (todos 17%).
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