domingo, 25 de março de 2012

Angola: O PATRIOTISMO DE SAMAKUVA




José Ribeiro – Jornal de Angola, opinião, em A Palavra ao Diretor

O líder da UNITA, Isaías Samakuva, em vez de revelar aos angolanos os seus projectos e propostas para o país, foi para o estrangeiro difamar o Presidente da República, o Poder Judicial e os jornalistas.

As próximas eleições não são fáceis para Samakuva. Consciente, talvez, de que nas eleições os seus actos e palavras vão ter um efeito mais devastador do que no acto eleitoral de 2008, o líder pôs de parte a sua condição de angolano e foi para um país estrangeiro atacar quem lhe deu tudo. Até somas elevadas de dinheiro, que em vez de serem aplicadas num projecto político coerente, foram devoradas por quem apenas pensa nos seus interesses pessoais e em fazer fortuna à custa do sofrimento dos angolanos.

Isaías Samakuva comprou, com o dinheiro dos nossos impostos, espaço num dos jornais mais caros dos EUA, o “Washington Post”, para desonrar a sua pátria e espezinhar os seus compatriotas. No meio, até acusa o sector público da comunicação social, os jornalistas, de “serem perseguidos” e de “fazerem propaganda” do governo. Isaías Samakuva sabe que o Jornal de Angola tem as suas páginas totalmente abertas à UNITA e que não deixou, uma só vez, de cobrir as actividades do partido para as quais foi convocado. Que prove o contrário e que diga aos angolanos, em Angola, quem são os jornalistas perseguidos pelas autoridades por darem a sua opinião.

Se alguém tem razão de queixa, somos nós, os jornalistas. O líder da UNITA nunca ao Jornal de Angola revela a sua agenda política e nem sequer se digna informar das suas actividades no estrangeiro. Presumo que os restantes órgãos de comunicação social do sector empresarial do Estado estão nas mesmas condições. A UNITA comporta-se com a comunicação social como se ainda estivesse no tempo dos “lobbies”. Faz da democracia um bicho de sete cabeças, ignora a transparência e é incapaz de sair do labirinto onde mergulhou.

Só sabemos que Samakuva está em Portugal, nos EUA ou qualquer outro país estrangeiro, pelo eco da web. Ele sonega a informação aos órgãos de informação angolanos, num reprovável exercício de obstaculização do direito a informar, informar-se e ser informado garantido pela Constituição. O líder da UNITA tem dificuldade em perceber que o Jornal de Angola é lido por muitos milhares de angolanos e que muitos desses leitores são da UNITA. Gente de todos os partidos e de todas as classes sociais ouve a RNA e vê a TPA. Por isso, quando Samakuva nos está a sonegar a informação, está a desrespeitar todos esses cidadãos que têm o direito a ser informados com verdade e não com a propaganda dos lobbies e jornalistas pagos à linha e ao segundo.

Mas o mais grave, porque é novo na prática do líder da Oposição, foi a forma grosseira e profundamente injusta como se referiu ao Poder Judicial em Angola. Samakuva, no espaço comprado no jornal “Washington Post”, insultou todos os magistrados, judiciais e do Ministério Público, reduziu a sua actividade a lixo. Quem insulta e calunia o Chefe de Estado e seus familiares, não faz a mínima ideia do que é o jogo democrático. E quem trata os magistrados judiciais como se fossem candongueiros da Justiça, das duas uma: ou está fora do jogo democrático ou a mais na política.

Isaías Samakuva é o líder da Oposição, o que lhe dá especiais responsabilidades, porque tem um papel insubstituível no regime democrático. Mas também é membro de pleno direito do Conselho da República, um órgão de consulta do Chefe de Estado. Salvo melhor opinião, é ele quem merece ter o maior espaço na imprensa, mas se isso não acontece a responsabilidade é apenas sua. Os insultos e calúnias proferidos por Samakuva na publicidade paga no jornal dos EUA, é deslealdade. Foi um ataque traiçoeiro a quem deve, pelo menos, lealdade institucional.

Os eleitores angolanos devem estar perplexos com este comportanento. Mas os apoiantes da UNITA não estão melhor. Ao verem que o seu líder oscila entre o insulto e o desprezo pelas instituições democráticas, têm razões para se preocuparem. A escassos seis meses das eleições, Samakuva vai dizer aos americanos que o Presidente da República de Angola não presta, os juízes são vendidos e os jornalistas uma cambada de propagandistas. Não sei se naquelas paragens o levam a sério. Mas em Angola seguramente que vai ser julgado. Esse julgamento é feito, implacavelmente, pelos eleitores.

Os desafios que temos pela frente exigem excepcional força humana. Mas se o maior partido da Oposição só tem para dar um contributo de baixa política, então os do costume vão ter de se empenhar ainda mais.

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