domingo, 4 de março de 2012

Rússia: Vladimir Putin vence presidenciais com 58,3% dos votos




Paulo Moura, em Moscovo - Público

A mais do que esperada vitória de Vladimir Putin nas eleições presidenciais da Rússia foi confirmada por uma sondagem à boca das urnas dando-lhe 58,3% dos votos, num sufrágio marcado por uma participação acima do previsto.

Aquele valor, da sondagem do instituo estatal VTsIOM, e a previsão avançada por outra sondagem, da FOM, com um resultado de vitória de Putin nos 59,3%, estão dentro do que tinha sido previsto antes das eleições, então numa margem entre os 59% e os 66%.

É de qualquer forma mais do que suficiente para o primeiro-ministro e antigo Presidente (entre 2000 e 2008) ver garantido o seu regresso ao Kremlin já à primeira volta – agora para um mandato de seis anos, ao fim do qual pode ainda voltar a recandidatar-se, permanecendo no poder até 2024, por um período quase tão extenso quanto aquele em que José Estaline esteve à frente dos destinos da União Soviética.

Os primeiros números avançados pela Comissão Central Eleitoral vão um pouco já além dos indicados nas sondagens após o encerramento das assembleias de voto, entregando a Putin 61,8% dos votos com 14,5% dos boletins contados.

“Eu estou aqui porque não quero que Putin ganhe”, explicou Ekaterina, psicóloga de profissão, que cumpria uma das missões de observação da Liga de Eleitores, na estação de voto da escola da rua Storaia Seolitsnaia, no bairro de Socolnitza. “Não gosto de Putin. Não passará!”, acrescentou ela, sentada junto à enorme urna de plástico transparente.

À medida que os eleitores entregavam os boletins, Ekaterina fazia cruzinhas numa folha de papel, para no fim poder confirmar o número de eleitores. Para já, ainda não detectou nenhuma irregularidade. Mas o momento crítico será a contagem, a que ela tenciona assistir. “Se vir algo suspeito, tenho aqui um número para onde devo telefonar. Advogados da Liga virão imediatamente, bem como artistas, que farão um filme sobre o que se passar, para que todos fiquem a saber”.

“Eu votei Ziuganov [o candidato comunista]”, disse, à saída do Centro Cultural da Juventude de Sokolnitza, e também espontaneamente, Anton Jelecov, um estudante de Relações Públicas com 21 anos. “A minha família é comunista, e eu sigo a tradição. Os comunistas de hoje defendem um regime diferente do soviético, com igualdade entre as pessoas, mas também com liberdade”.

Já dois reformados que votaram na escola de Ulitza Barbolina, ainda que tenham saudades dos tempos comunistas, escolheram o multimilionário moderno Mikhail Prokhorov, também segundo confissão voluntária.

“Nos tempos da União Soviética, as datchas (casas de férias) não tinham cercas. Agora têm muros de pedra”, recorda Ekaterina Kuzniet, de 65 anos. E diz ainda que “nesses tempos, as pessoas eram todas iguais. Não havia ricos nem pobres. Agora, as diferenças são enormes, uns têm tudo, outros não têm nada”.

No entanto, ela e o marido saíram de casa para vir votar no bilionário Prokhorov, cuja campanha eleitoral consistiu em anúncios televisivos onde figuras do mundo do showbiz, da televisão e do desporto apareciam levantando um polegar e dizendo: “Prokhorov. Gosto!”, como no Facebook.

“Votamos nele porque é uma cara nova”, explicou Ekaterina. “Os outros já os conhecemos e já estamos fartos deles”. O casal vota em todas as eleições, porque considera isso “uma oportunidade de manifestar livremente a opinião”. Já o faziam mas eleições dos tempos soviéticos. “Ah, mas essas eram muito mais animadas. Eram uma festa”.

Putin vencera as presidenciais de Março de 2000 com 53,4% dos votos, num sufrágio que foi antecipado após a retirada inesperada do então chefe de Estado russo Boris Ieltsin. Quatro anos mais tarde obtinha a recondução ao Kremlin com um esmagador triunfo por 71%.

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