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Díli, 10 mar (Lusa) - Angelita Pires, ex-companheira do major Alfredo Reinado acusada e depois absolvida por instigação do ataque ao Presidente de Timor-Leste José Ramos-Horta em 2008, decidiu candidatar-se às presidenciais de dia 17 para acabar com as injustiças no país.
Em entrevista à agência Lusa, Angelita Pires disse que tomou a decisão de se candidatar em fevereiro de 2008, quando foi detida e acusada por ter instigado o ataque à residência do atual chefe de Estado timorense, José Ramos-Horta, que ficou gravemente ferido.
O major Alfredo Reinado morreu no ataque, José Ramos-Horta sobreviveu e Angelita Pires acabou por ser absolvida em 2010.
"Eu acho que quase todo o mundo sabe a questão do processo de 11 de fevereiro de 2008. Logo naquele momento, eu decidi candidatar-me de qualquer modo. Foi uma grande luta, uma grande injustiça, essa é a razão", afirmou à Lusa.
Mas, segundo Angelita Pires, há outras injustiças sociais no país e é tempo de "Timor-Leste ter um Presidente que realmente se comprometa a cumprir a Constituição, as regras e as leis".
Para a candidata, a libertação de Maternus Bere, ex-chefe da milícia Laksur, acusado de crimes contra a humanidade em 1999 no Suai, também "não fez nada a favor de Timor-Leste perante os olhos do mundo".
"Nós somos um país membro das Nações Unidas e assinamos o estatuto de Roma. Como será possível que nós agora não cumprimos as regras? Uma das regras fundamentais é o respeito pelos direitos humanos e o direito do Estado", disse.
Para Angelita Pires, a democracia em Timor-Leste tem de ser "livre e aberta" e verdadeira, salientando que chegou a vez de a democracia dar abertura a outras vozes, caras e ideias.
"Temos uma liderança em Timor-Leste que já preside no cenário político há quase 40 anos. Acho que chegou o tempo de [esses líderes] passarem esse direito, essa iniciativa e preparem-nos para continuar o trabalho deles", defendeu a candidata.
Esta mudança é necessária, porque, segundo a candidata, o "povo grita por ideias refrescantes".
"Nós temos que inovar o cenário político. É importante para Timor-Leste, é importante para a democracia, porque poder político estagnante significa patronagem empresarial estagnante e isso faz nada a favor da nossa economia e isso só encoraja a corrupção", afirmou.
Se for eleita Presidente, Angelita Pires garante que vai cumprir a Constituição e estar atenta às leis que não favorecem os residentes do país.
"Nós temos obrigação de implementar o que já está definido na Constituição. Nós não devemos utilizar só certos. Só para favorecer meia dúzia de famílias e não o povo inteiro", sublinhou.
Por isso, insistiu, se ganhar vai assegurar o Estado de Direito, a paz e a estabilidade de Timor-Leste.
Questionada sobre quem vai apoiar na segunda volta, caso perca, Angelita Pires disse que não podia divulgar, mas que tinha em mente uma pessoa.
"É uma pessoa muito carismática, já está na nossa cena política há bastantes anos, é uma pessoa que sofreu com o povo, é uma pessoa digna, é uma figura histórica e atual e acho que é uma pessoa que vai servir este povo", afirmou.
Sobre a sua candidatura, concorrem às presidenciais apenas duas mulheres e Angelita Pires disse que chegou a hora de um o mundo conhecer a mulher 'buibere' (mulher em mambai, uma das línguas maternas mais faladas no país.
"Todo o mundo já conhece quem é o homem 'maubere', chegou a hora de conhecer o que é a mulher 'buibere', o que foi a parte dela nesta história, nesta luta, o que é a beleza dela, não falo só da beleza externa, mas da beleza interna, do que ela sofreu e qual é a visão dela para o futuro. Chegou a hora de a mulher timorense sobressair no mundo", afirmou.
Com 46 anos, Angelita Pires é a candidata presidencial mais nova. Viveu em Portugal e na Austrália após a ocupação de Timor-Leste pela Indonésia e é sobrinha da atual ministra das Finanças, Emília Pires, e do secretário de Estado dos Recursos Naturais, Alfredo Pires.
Regressou a Timor-Leste em 1999, tendo trabalhado como tradutora para a Unidade de Crimes Graves das Nações Unidas. Ex-companheira do major Alfredo Reinado, foi detida e acusada por ter instigado o ataque à residência do Presidente timorense, José Ramos-Horta, que ficou gravemente ferido, mas acabou por ser absolvida em 2010.
Em 2011 casou-se com o seu advogado de defesa e mudou-se para Darwin, tendo regressado a Timor-Leste para se candidatar às presidenciais.
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