Emanuel Pereira, da Agência Lusa
Maputo, 04 mar (Lusa) - Durante cinco meses, os urologistas Carlos Silva e Pablo Vega viveram o sonho de uma vida ao atravessarem o continente africano de carro, tendo como destino final Moçambique, onde pretendem exercer medicina.
Tinham empregos estáveis em dois hospitais portugueses, mas achavam que a vida não se faz de certezas, largando tudo para se lançarem à aventura africana.
"Já tínhamos estado aqui em 2007 a trabalhar em conjunto. Pensámos que era a oportunidade de regressar e porque não fazermos a viagem que sempre quisemos fazer que é cruzar África de norte a sul por terra", diz à Lusa o português Carlos Silva, de 34 anos.
Cinco meses, 30 mil quilómetros e 17 países foram as barreiras temporais e geográficas que os dois médicos tiveram de transpor até chegarem a Moçambique, na última semana.
"Tivemos de preparar o carro e o percurso. Inicialmente, o plano era fazer a viagem pelo lado este de África, ou seja, descer pelo Egito até Moçambique, mas pelas circunstâncias que há atualmente na Síria mudámos o percurso para a costa oeste", conta o espanhol Pablo Vega, 42 anos.
A "viagem de sonho" destes homens nem sempre se revelou "idílica", caso da travessia da Nigéria, onde encontraram algumas situações inóspitas.
"Encontrámos muito controlo policial, muito desconforto e insegurança. Passámos por uma estrada que tinha um aglomerado de gente, ouvimos um tiro", recorda o português Carlos Silva.
"Quando alguém pensa em atravessar África, pensamos que é uma viagem idílica, mas quando começámos a fazer a viagem, surgem problemas e situações desconfortáveis que nos levam a pensar se estamos a fazer bem ou não", diz Pablo Vega.
Em 2008, a mítica prova do Rali Dakar foi cancelada no continente africano devido ao risco de atentados da Al-Qaida na Mauritânia, país que os dois viajantes encontraram em situação "normal".
"A entrada na Mauritânia é complicada. A fronteira é difícil, atravessámos um local com dois quilómetros que parece ser terra de ninguém. Depois, quando entramos no país, a perceção é diferente, é menos perigoso do que o mundo pensa", avança o espanhol Pablo Vega.
"Na capital fala-se de situações da Al-Qaida contra turistas, mas nós não sentimos isso", acrescenta Carlos Silva.
Antes da partida, os dois médicos apenas requisitaram um visto para Angola, o mais "complicado" de conseguir.
"Todos os outros conseguimos pelo caminho. Mesmo assim, foi complicado obter o visto de Angola em Portugal porque era uma viagem diferente e no consulado não estavam habituados a esse tipo de pedido, mas lá conseguimos", recorda o português.
Com o ponto final colocado na viagem, os dois urologistas já só pensam em concretizar o segundo propósito da aventura, que passa por exerceram a sua especialidade médica em Moçambique.
"Tínhamos bons trabalhos em dois hospitais portugueses, mas o desafio de trabalhar em Moçambique na sequência (da experiência) de 2007, suscitou a vontade de regressar. Sentir que estamos a ajudar um povo que precisa", diz Carlos Silva.
Pablo Vega e Carlos Silva encontram-se em conversações com o Ministério da Saúde de Moçambique, com vista à sua contratação como urologistas, uma especialidade que praticamente não é exercida no país.
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