sexta-feira, 27 de abril de 2012

Brasil: AS QUOTAS PARA NEGROS NAS UNIVERSIDADES




Urariano Mota*, Recife – Direto da Redação

Recife (PE) - Enquanto escrevo, ainda não acabou o julgamento, pelo STF, das cotas para negros na Universidade de Brasília. Às 10 e 15 do Recife numa quinta-feira, o Supremo Tribunal ainda vai se pronunciar sobre uma ação contra as cotas movida pelo DEM, que atende pelo nome de Democratas, e tudo sem ironia. A realidade é que já passou do limite do deboche.

A dar corpo à sua defesa democrática, sem ironia, entendam, o DEM argumenta que o negro sistema transgride, viola diversos preceitos fundamentais fixados pela Constituição de 1988, a saber: a dignidade da pessoa humana, o combate ao preconceito de cor e à discriminação, o que afetaria o próprio combate ao racismo. Mas tudo sem ironia, se conseguem entender. E de tanto usar a observação, a partir de agora usarei apenas TSI, que vem a significar “tudo sem ironia!”.

Dizem os democratas, TSI, que o sistema de cotas fere o princípio meritocrático. Melhor seria dizer, sem TSI, que o DEM reafirma o meritocrático como um mentirocrático, porque torna absoluto o mérito, o mérito que sempre houve para os de sempre, a saber: tudo para os filhos dos bem postos na sociedade de exclusão, os seus vizinhos, sobrinhos, esposa, mãe, os mais próximos enfim, que, é um diabo, todos têm mérito e são filhos de Deus. Mas indo além da defesa do próprio mérito, defendem os democratas TSI que o sistema ofende dispositivos do direito universal para a educação. Você leram bem: cota-para-os-negros-fere-direito-universal-da-educação. TSI! TSI! TSI! ao infinito.

Notem que as cotas para negros se confundem com as cotas para estudantes de escolas públicas, onde não por acaso se encontram os pobres, negros e mestiços do Brasil. E por falar em mérito, um estudo da Universidade de Campinas já demonstrou que os alunos oriundos de escolas estaduais, menos de 30% do corpo discente da Unicamp, possuíam durante o curso médias 5% superiores aos demais - apesar de enfrentarem maiores dificuldades materiais ao longo da permanência na universidade. Mas esse mérito dos que lutam pela educação como uma tábua de sobrevivência, não serve aos Democratas.

Para quem não sabe, as cotas fazem uma compensação às injustiças de renda, família e oportunidades na vida. Nelas, por elas, brasileiros podem entrar em uma universidade, apesar da pobreza, apesar da discriminação geral, apesar dos pais, alguns até inexistentes, mas todos portadores da ignorância e infelicidade recebidos há gerações.

Os novos senhores de engenho do DEM e assemelhados dizem que no Brasil não há negros, pois de tal maneira estamos misturados, que difícil é saber o branco que não tenha uma fração de sangue da senzala. Difícil seria, quando não impossível saber quem é negro. Que queixão, que questão. Ora, todo queimadinho de sol sabe que todos sabem quem é quem, quando lotam as prisões, quando são preteridos para uma chance de vida nos hospitais, quando uma bala perdida sempre vai para a sua pele, ou destino preferencial, digamos, sem TSI.

As cotas são um acordo enquanto no mundo não há justiça. A obra da escravidão é uma longa, angustiosa e interminável história. “Não basta acabar com a escravidão. É preciso destruir sua obra.", dizia Joaquim Nabuco, há dois séculos. E até hoje continuamos no débito. Somos o último país do mundo a terminar a escravidão legal, enquanto discutimos se os negros brasileiros merecem o tratamento de uma discriminação positiva.

Talvez os iluminados da nossa democracia racial não saibam que os nossos jovens de alma branca são sempre os suspeitos, são eles sempre os primeiros a sofrer o vestibular de assassinatos. Esta é a nossa democracia, que escapa à inteligência do DEM: no Brasil, todo negro é alvo para a polícia.

* É pernambucano, jornalista e autor de "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do cabo Anselmo, executada pela equipe do Delegado Fleury com o auxílio de Anselmo.

6 comentários:

Anónimo disse...

O Supremo Tribunal Federal tornou-se o palco do ativismo judicial mais abjeto, o instrumento mais grotesco de uma vertente, que até então parecia insignificante, chamada “direito alternativo”. Agora, o marxismo cultural se tornou marxismo jurídico. A ideologia revolucionária contamina os tribunais, transformando o judiciário num apêndice da ideologia do PT. Poucas pessoas percebem a gravidade dessa situação, já que o judiciário não é mais isento de julgamentos conforme a lei ou a Constituição. Pelo contrário, é o Partido que dita como se deve compreender a lei e a Constituição. Os ministros do STF, colocados por indicação do PT, são o reflexo cabal desse aparelhamento da justiça com o Partido. Tais ações são de extrema gravidade, pois o judiciário está subvertendo a segurança jurídica, como também invadindo a esfera política do Congresso Nacional. Quando o direito é remodelado, não conforme à realidade ou a legalidade, mas de acordo com a intoxicação ideológica de um grupo subversivo, se está caminhando para o totalitarismo. Os julgamentos do STF a respeito do chamado “casamento homossexual” ou do aborto de anencéfalos refletem o compromisso de sujeitar a lei às agendas politicamente corretas da esquerda e do PNDH-3. O STF virou tão somente o escritório de advocacia do PT e uma extensão do Partido-Estado. Algo similar com o que ocorreu na Rússia soviética ou na Alemanha Nazista.

Anónimo disse...

Recentemente os ministros da Corte Suprema criaram mais outro engodo: em nome da igualdade, da justiça social, da “dívida histórica” da escravidão, estabeleceram o racismo constitucional e institucionalizado. Criaram um precedente inimaginável em nossa história, que é a discriminação racial legal, dentro de um país mestiço. O Estado brasileiro agora discrimina a cor dos brasileiros e, também, determina critérios de raça. E usa da ideologia da raça para jogar brasileiros contra outros.

Anónimo disse...

Escuto de um amigo meu a seguinte pérola: as cotas raciais visam compensar uma “dívida social”. E eu pergunto: dívida social de quem contra quem? Qual o critério para cobrar essa dívida? A pele branca de alguém é algum elemento de culpabilidade pela situação dos negros ou mestiços? A abstração vazia do discurso esconde a mais abjeta ideologia racista, a mais monstruosa "reparação" através de um conceito exclusivamente racial. A população brasileira da atualidade não tem culpa se houve a escravidão no passado. Aliás, se há uma dívida a ser paga, ela foi extinta, já que os negros de hoje tampouco sofreram a prática da escravidão. Quem deve cobrar dívidas é quem foi lesado por isso, ou seja, os ex-escravos contra os ex-senhores. Como ambos morreram, a dívida morreu também com eles.

Anónimo disse...

Entretanto, é mania das minorias culpar um bode expiatório para seus fracassos. O homem branco é supostamente culpado pelo fato de existirem negros pobres. Ainda que essa população seja mestiça, ainda que a definição entre brancos e negros seja incerta, ainda que os negros e brancos se misturem livremente neste país, o Estado já os segregou. Criou cidadãos privilegiados e cidadãos de segunda classe, pela mera distinção da cor da pele. E baseado numa visão abstrata e fictícia da realidade, a de que brancos necessariamente oprimem os negros.

Anónimo disse...

Se por um lado, o STF demonstra uma indigência intelectual em conhecer o país, sujeitando-o a uma agenda contrária à sua realidade histórica e cultural, percebe-se que tampouco eles conhecem a história da escravidão. Quem afirmará que no século XIX, até os negros e pardos libertos tinham escravos e que muitos ex-escravos se tornaram traficantes de escravos? Ou que as elites negras da África tiveram participação da escravidão, como vendedores de seus inimigos tribais? Todavia, o STF não estuda história. Ou melhor, estuda história a partir da visão ideológica e falseada do movimento negro. A partir da perspectiva do branco malvado e do negro coitadinho.

Anónimo disse...

Quando vejo as declarações dos ministros do STF, parece que estamos falando de outro país. São discursos visivelmente esquizofrênicos, que refletem uma profunda alienação das autoridades deste país. O magistrado Luiz Fux solta o seguinte arremedo de argumento: "A opressão racial dos anos da sociedade escravocrata brasileira deixou cicatrizes que se refletem na diferenciação dos afrodescendentes. [...] A injustiça do sistema é absolutamente intolerável." Ao que parece, o ilustre juiz desconhece que pessoas como eu, de pele branca, são descendentes também de africanos. Mas se a “sociedade escravocrata” deixou cicatrizes, como explicar que ela tenha gerado nulos efeitos a mim, já que sou descendente de portugueses, holandeses, indígenas e africanos? E quando ele fala de “injustiça do sistema”, não a especifica. Injustiça de quem? Do passado? E se a injustiça era do passado, o que tem a ver as pessoas do presente com isso? Por acaso somos ainda um país escravocrata? É vergonhoso perceber que os juízes não conseguem nem mesmo exemplificar concretamente a justificativa do próprio discurso. Mas ele não poupa de sua estupidez: "É uma classificação racial benigna, que não se compara com a discriminação, pois visa fins sociais louváveis". O inferno está cheio de boas intenções. Desde quando discriminar pessoas pela cor da pele tem algo “benigno”? O que assusta nesta terminologia é ver benignidade em racializar as relações sociais. Todo racismo tem um apelo social louvável para os racistas. Os nazistas também achavam louvável segregar judeus, porque os fins sociais da preservação da raça eram legítimos. Ou melhor, eram embasados na idéia de que os judeus controlavam a economia alemã e mundial, e que, portanto, os alemães deveriam ter primazia sobre os judeus. Luiz Fux mais parece um colegial de DCE acadêmico do que alguém foi elevado a mais alta corte do país.

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