Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
O líder parlamentar do PS afirmou hoje que o primeiro-ministro tem cada vez maior dificuldade em sair do "escritório de contabilidade" que montou em São Bento, acusando o Governo de arrogância e de distorção sistemática da verdade.
Embora nada disto seja novidade, creio que faz sentido ir lembrando os esqueléticos súbditos do sumo pontífice do governo de Portugal do que se passa, sobretudo porque a central de informação de São Bento todos os dias produz coisas novas, qual delas a pior.
Carlos Zorrinho, que falava na sessão de abertura das Jornadas Parlamentares do PS, em Bragança, mostrou também a a sua angelical ingenuidade ao apelar ao governo que abdique do que ele tem de mais sólido, "arrogância política".
E como se não bastasse uma ingenuidade, Carlos Zorrinho resolveu acrescentar outra, neste caso completamente inexequível por parte de quem é dono da verdade. Ou seja, que o governo vá ao terreno "ver as consequências da sua política de flagelação aos portugueses".
O presidente do Grupo Parlamentar do PS acusou ainda os partidos da maioria de "sistemática distorção da verdade", método político que disse ter sido utilizado já no ano passado "quando houve uma coligação contra natura com o PCP, Bloco de Esquerda e Os Verdes para forçarem Portugal a pedir ajuda externa".
"Essa distorção da verdade prossegue hoje quando o governo fala sobre medidas como a suspensão das reformas antecipadas ou sobre os cortes dos subsídios de férias e de Natal. O Governo está a quebrar a relação de confiança com os cidadãos", considerou Carlos Zorrinho.
Nova argolada. Desde quando há uma relação de confiança entre os membros de uma casta superior e os seus escravos?
E é assim que o primeiro-ministro desse reino que já foi nação aposta reiteradamente na estratégia de tratar a maioria dos portugueses como trata a maioria dos seus súbditos partidários: mentecaptos.
Pelo menos os sociais-democratas aplaudem, o que se calhar é normal... Aliás, cada vez mais, o que é normal para Passos Coelho não o é para os potugueses. A seriedade e o rigor não são compatíveis nem com o presidente do PSD, nem com o primeiro-ministro.
Brincando política, material e mentalmente com os portugueses, sobretudo com os mais de 1.200 mil desempregados, com os 20 por cento de pobres e com os outros 20 por cento que passam a vida a olhar para os pratos vazios, Passos Coelho veste a farda do político impoluto que, no mínimo, se assemelha a Deus e que só não fez mais pelos seus servos porque foi Judas quem lhe deixou a gamela vazia.
Afinal quem reduziu os salários, quem congelou as pensões, quem impede as reformas antecipadas, quem rouba os subsídios de férias de Natal, quem pôs Portugal com uma mão atrás e outra à frente, foi Passos Coelho por culpa óbvia de Sócrates que, por sua vez, remete o ónus para Salazar.
Portugal, pelos vistos, nunca teve dois tão bons primeiros-ministros como o que está e o que esteve. E se o próprio José Sócrates dizia que "estava para nascer um primeiro-ministro que faça melhor do que eu", Passos Coelho bem pode dizer que está para nascer um primeiro-ministro que, para além de mentiroso, tanto tenha feito para institucionalizar o esclavagismo em Portugal.
E quando assim é, e quando os portugueses permitem que assim seja, o melhor é nomear uma comissão liquidatária.
Passos Coelho usou todos os meios para chegar a primeiro-ministro. O país pouco o preocupa. Os cidadãos nada o preocupam. O que o verdadeiramente preocupa é o poder e, eventualmente, a situação de carência absoluta do presidente da República.
Quem de facto faz tudo, saltando das mentiras em campanha eleitoral para as aldrabices governativas, para dar aos portugueses uma máquina de fazer sonhos que é capaz de projectar comida nos pratos, é Passos Coelho.
Mas, ao que parece, os portugueses continuam a dizer que “quanto mais me bates, mais eu gosto de ti”.
E a ser assim, parafraseando José Sócrates e Passos Coelho, ainda está para nascer um povo que consiga contar até 12 sem ter de se descalçar...
E enquanto isso, Passos Coelho continua a garantir que com ele Portugal não vai morrer da doença. Vai morrer, está a morrer, da cura.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: SEM VIOLÊNCIA NÃO SE VAI LÁ…
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