Correio do Brasil, com agência internacionais - de Damasco, Istambul e Ancara
Rebeldes sírios que lutam contra o governo do presidente Bashar al-Assad têm recebido cada vez mais e melhores armas nas últimas semanas, em um esforço pago por nações do Golfo Pérsico e coordenado pelos Estados Unidos, segundo ativistas da oposição e fontes diplomáticas dos EUA. A administração Obama, oficialmente, é enfática em negar o fornecimento domaterial bélico, que inclui até munição antitanque. Apesar da negativa, dizem as fontes, a administração norte-americana tem aumentado seus contatos com as forças militares de oposição, para ampliar a capacidade de integração entre os rebeldes e o poder de fogo contra o governo de Damasco.
– Nós estamos ampliando nossa assistência não letal aos rebeldes sírios, e continuamos coordenando nossos esforços com amigos e aliados na região para obter um maior impacto das ações conjuntas que realizamos – tenta explicar um alto servidor do Departamento de Estado dos EUA, envolvido na ajuda aos rebeles sírios, na condição de anonimato, às repórteres Kanen DeYoung e Liz Sly, do diário norte-americano The Washington Post.
A facilitação dos contatos entre os militares rebeldes e seus patrocinadores, no exterior, transformou-se na marca da política de Obama para o conflito na Síria, que vive à beira da guerra civil. Muitos observadores militares consideram inevitável, agora, o confronto aberto entre as forças militares em curso na Síria, a partir da expansão obtida pelos rebeldes em armas e suprimentos bélicos, que entram no país pelas fronteiras com a Turquia, em Idlib, e com o Líbano, em Zabadani. Ativistas da oposição, na semana passada reclamavam da munição que estava acabando. Agora, afirmam que o fornecimento foi ampliado com a compra de fuzis, bazucas e obuses, comprados no mercado negro que cresce na região, após a decisão da Arábia Saudita, Qatar e outros países do Golfo, alinhados aos EUA, de prover milhões de dólares para um fundo destinado ao objetivo de ampliar o conflito na Síria.
Militantes radicais islâmicos que integram as forças contrárias ao presidente al-Assad também admitem o acesso a fontes próprias para o abastecimento de armas e munições, usando recursos próprios e o dinheiro de Estados do Golfo, “proveniente da Arábia Saudita e do Qatar”, disse Mulham Al Drobi, integrante do Comitê Executivo da Irmandade Muçulmana Síria. A chegada de mais suprimentos bélicos reverteu a situação da quase derrota para o Exército em Baba Amr, nas cercanias de Homs, e em outras áreas onde a luta se desenvolve.
– Tem mais armamento pesado chegando. Algumas áreas já estão plenamente abastecidas – afirmou outra figura da oposição.
A escalada do conflito na Síria, assim, tende a aumentar, na medida que o governo de al-Assad, por sua vez, se sente liberado para revidar com mais força. O número de mortos e feridos, segundo observadores, tende a aumentar consideravelmente nas próximas semanas.
Violentos ataques
Abastecidos com as armas patrocinadas por aliados dos norte-americanos, as facções islâmicas radicais, que reivindicaram violentos atentados nas últimas semanas, transformam-se em uma reação adversa ao apoio dos EUA.
– A Al-Qaeda não está na Síria. Mas existem hoje algumas facções de jihadistas que optam pela mesma forma de agir da rede extremista. Sabemos que eles são sírios, estrangeiros, que são poucos e que, até o momento, ninguém os conhece, nem a Al-Qaeda, nem os rebeldes – explicou a jornalistas Mathieu Guidère, especialista em mundo árabe e muçulmano.
Em 10 de maio, um duplo atentado deixou 55 mortos em Damasco. O regime e a oposição culpam um ao outro pelo ataque, o mais sangrento desde o início da rebelião, em março de 2011, militarizada após meses de uma repressão implacável praticada pelas forças legalistas. Um pequeno grupo desconhecido antes da revolta, a Frente Al-Nosra, reivindicou este e outros ataques anteriores.
À medida que a Síria mergulha no caos, “podemos esperar a proliferação de grupos radicais”, segundo Joshua Landis, especialista em Oriente Médio. Seja qual for sua identidade, os autores desses ataques “utilizam a assinatura da Al-Qaeda. Atentados simultâneos, esta é a marca” da rede fundada por Osama bin Laden, ressaltou Guidère, autor de vários livros sobre os extremistas. Esses ataques, especialmente violentos, lembram os que abalaram o Iraque e que foram reivindicados pela Al-Qaeda e seus seguidores.
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