segunda-feira, 21 de maio de 2012

Timor-Leste: 10 anos depois famílias pedem justiça desde a independência




Díli - Uma década depois de o país ter conquistado a independência, a maioria dos autores dos crimes contra a humanidade durante a ocupação estão agora a viver livremente na Indonésia, enquanto as famílias das vítimas aguardam por justiça.

A família Lemos, no distrito de Ermera, pediu a responsabilização dos responsáveis pelos crimes cometidos durante a ocupação indonésia.

Ana Lemos, de 34 anos, foi secretária da Organização das Mulheres durante a resistência, e trabalhou para a UNAMET, na constituição do referendo que conduziu à independência, a 30 de Agosto de 1999.

Nas semanas após o referendo, foi capturada em sua casa, por uma milícia indonésia liderada por Bola Guling, e sexualmente agredida na frente de sua mãe e filhas, antes de ser morta.

Inês Conceição Lemos, mãe de Ana Lemos, guardou sempre as cicatrizes emocionais.

«Eu não procuro vingança mas sinto a falta das minhas filhas. Duas morreram de doença e a terceira foi assassinada. É triste porque o autor da sua morte ainda anda livremente na Indonésia», referiu Inês Conceição Lemos.

O Presidente indonésio, Susilo Bambang Yudhoyono, participou nas comemorações marcando o 10 º aniversário da restauração da independência de Timor-Leste, este Domingo, 20 de Maio.

Inês Lemos disse que a reconciliação entre Timor-Leste e a Indonésia foi importante mas, como vítima, queria que os dois Governos processassem a pessoa que matou a sua filha, há cerca de 12 anos.

«Devia haver justiça para a minha filha. Por que é que a milícia indonésia a matou?», referiu

A mãe, ainda de luto, disse que iria vestir-se de preto e comemorar a restauração da Independência, no distrito de Ermera, com sentimentos misturados: felicidade por causa da liberdade da sua nação e tristeza porque não houve justiça para a morte da sua filha.

Inês Lemos pediu aos líderes de Timor-Leste para procurarem uma maneira de trazerem à justiça aqueles que cometeram crimes no passado.

A jovem de 34 anos que foi capturada pela milícia a 13 de Setembro de 1999, tinha três filhos: Fidelita Diana Lemos, Ximenes Rebelina Gouveia Lemos e Frederico Ximenes Soares Lemos.

As filhas são estudantes universitárias na Indonésia e o filho, que ainda chora a morte da mãe, só pôde terminar a escola secundária porque a avó não conseguia pagar mais estudos.

A Independência de Timor-Leste foi duramente conquistada. Muitas pessoas morreram entre 1975 e 1999, sob a brutal ocupação indonésia.

Alguns dizem que a perda da vida é uma consequência da guerra e que a reconciliação é o caminho a seguir. Outros dizem que a justiça deve ser entregue aos tribunais.

Os líderes de Timor-Leste têm tendência a favorecer a reconciliação.

O Presidente eleito Taur Matan Ruak, disse, durante a campanha, que a evolução da relação entre Timor-Leste e a Indonésia foi muito importante.

O Chefe de Estado indonésio, Susilo Bambang Yudhoyono, é um dos  convidados internacionais que o Governo do Primeiro-ministro Xanana Gusmão convidou, para participar no 10 º aniversário da restauração da independência de Timor-Leste.

Funcionários da embaixada da Indonésia em Díli disseram esperar que a visita do Presidente Susilo Bambang Yudhoyono viesse reforçar as relações de amizade e cooperação bilateral entre a Indonésia e Timor-Leste.

Na sequência de um referendo em 1999, A zona Este de Timor-Leste foi separada da Indonésia e e ficou sob a supervisão das Nações Unidas  antes de o Estado timorense ter sido proclamado a 20 de Maio de 2002.

Timor vai escolher de novo um Primeiro-ministro nas Eleições gerais de 7 de Julho e, no final do ano, vai finalmente dizer adeus às forças da ONU estacionadas desde 1999.

A acção do Coordenador Nacional de Timor-Leste e Indonésia Network (ETAN) disse que a independência de Timor foi impedida por quase 25 anos, pelo apoio dos Governos dos EUA e de outros países à ocupação ilegal Indonésia.

No entanto, nenhum alto funcionário de qualquer destes países foi sido responsabilizados pelas violações dos direitos humanos e crimes de guerra que tiveram lugar, referiu o responsável da ETAN.

«Os EUA, outros países e as Nações Unidas devem comprometer-se a dar justiça às vítimas e suas famílias», referiu o coordenador, num artigo de opinião, acrescentando que a ETAN não vai descansar.

O Coordenador Nacional disse que violadores de direitos humanos de outros locais são processados muitas vezes passado muito tempo de cometerem os crimes mas, no caso da Indonésia, continuam sem responsabilizar aqueles que ajudaram e praticaram crimes durante a ocupação.

(c) PNN Portuguese News Network

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