Rafael Marques de Morais – Maka Angola
O MPLA lançou ontem, 23 de Junho, no Estádio 11 de Novembro, a sua campanha para as eleições de 31 de Agosto, sob forma de homenagem ao seu presidente, José Eduardo dos Santos.
Alguns dos cantores mais populares, como Yuri da Cunha e Yola Araújo, entre outros, tornaram a festa do MPLA em actividade bastante agradável e atraente para a juventude, que vibrou bastante. No últimos anos, os actos de mobilização do MPLA têm sido definidos pela sua habilidade em juntar cantares, beberetes e uma formidável máquina de coacção para obrigar os funcionários públicos a participar.
No entanto, a homenagem ao Presidente, para além da fanfarra reportada em directo, pela comunicação social do Estado, com exageros que lembram a imprensa norte-coreana, revelou um dado interessante.
Os militantes do MPLA dedicaram mais aplausos à Yola Araújo e outros cantores do que ao Presidente da República e do seu partido, o candidato José Eduardo dos Santos. Fora do estádio, o governador de Luanda e primeiro secretário do MPLA, Bento Bento, usou os seus dons de mobilizador para pedir, reiteiradas vezes aos militantes, para que estes aplaudissem o Presidente de forma efusiva. Estes responderam sem entusiasmo. O Presidente terá entendido a mensagem e, apesar de ter sido apresentado para falar aos seus apoiantes, apenas dedicou-lhes um aceno.
O MPLA havia prometido 500 mil participantes no acto e ficou aquém dos 10 porcento da meta estabelecida, apesar de ter o absoluto controlo da comunicação social, dos recursos do país e do Estado. Após a apresentação do Presidente no interior do 11 de Novembro, o “mega-acto” de massas que se esperava no exterior não correspondeu às expectativas. Milhares de cidadãos sairam do estádio para os autocarros e não manifestaram qualquer interesse em ouvir a mensagem do Presidente, no exterior. Bento Bento e os mestres de cerimónia convidaram, várias vezes, os militantes a não retirarem-se do local, mas sem sucesso.
Foi um embaraço. Bento Bento e Bento Kangamba anunciaram que o Presidente falaria para os apoiantes em vão.
A lição que se pode tirar desta homenagem é a de que a diversão não deve substituir o discurso político. Com a estratégia de usar sempre grandes cantores para atrair multidões, foi criado o hábito de ir aos comícios do MPLA para ouvir os cantores e não os políticos. Vão também pelo churrasco e pela cerveja e acabam por ignorar as grandes realizações que o governo do MPLA tem anunciado na comunicação social do Estado.
Com a Yola Araújo e o Yuri da Cunha mais populares do que o Presidente, num comício do MPLA, é tempo para dizer que este partido deve rever o seu conceito de comunicação com as massas. Sobretudo, deve acordar para a realidade da mudança de consciência no seu próprio seio.
* Maka Angola é dedicada à luta anti-corrupção em Angola. Maka Angola é um espaço de denúncia de abusos de poder e uma voz contra a exclusão sócio-económica e a violação dos direitos humanos em Angola.
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