Anabela Fino, Lisboa – Opera Mundi, opinião
Ao humilhar os gregos, diretora-gerente do FMI quer mesmo é influenciar no resultado das eleições naquele país
A senhora de cabelo branco cuidadosamente négligé que a miúde nos entra em casa via televisão, sempre maquiada comme il faut, ostentando os seus colares de pérolas e os elegantes tailleurs comprados chez um seleto estilista da moda, devidamente acompanhada pelas suas malas Louis Vuitton com sapatos a fazer pendant, essa senhora, de nome Christine Lagarde e atual diretora do FMI (Fundo Monetário Internacional), protagonizou a semana passada um 'episódio' sórdido.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Lagarde – sempre tão politicamente correta – insultou o povo grego.
A responsabilidade de haver crianças afetadas pelos cortes drásticos na despesa pública é dos respectivos pais, que não pagam os impostos (?!). E foi mais longe na virulência do insulto dizendo pensar mais nas crianças do Níger do que nas grávidas gregas sem acesso a parteiras ou nos doentes sem meios para comprar medicamentos para sobreviver.
"Tenho-as sempre na minha mente, porque acho que precisam mais de ajuda do que as pessoas em Atenas", disse, sem no entanto explicar por que é que o FMI não "ajuda" o Níger... Será porque, ao contrário da Grécia, dali não há retorno assegurado?
Mas voltando à questão de fundo – a Grécia e os gregos – a senhora FMI, que gasta num kit de roupa e acessórios muito mais do que um trabalhador ganha por mês e tem um ordenado superior ao fruto do trabalho anual de milhares de pessoas, não disse o que disse por acidente.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Lagarde – sempre tão politicamente correta – insultou o povo grego.
A responsabilidade de haver crianças afetadas pelos cortes drásticos na despesa pública é dos respectivos pais, que não pagam os impostos (?!). E foi mais longe na virulência do insulto dizendo pensar mais nas crianças do Níger do que nas grávidas gregas sem acesso a parteiras ou nos doentes sem meios para comprar medicamentos para sobreviver.
"Tenho-as sempre na minha mente, porque acho que precisam mais de ajuda do que as pessoas em Atenas", disse, sem no entanto explicar por que é que o FMI não "ajuda" o Níger... Será porque, ao contrário da Grécia, dali não há retorno assegurado?
Mas voltando à questão de fundo – a Grécia e os gregos – a senhora FMI, que gasta num kit de roupa e acessórios muito mais do que um trabalhador ganha por mês e tem um ordenado superior ao fruto do trabalho anual de milhares de pessoas, não disse o que disse por acidente.
Numa altura em que os sem abrigo enchem as ruas de Atenas e a pobreza fez disparar em 40% a taxa de suicídios no país, Lagarde só tem uma preocupação, que nada tem a ver com o Níger: as eleições de 17 de Junho na Grécia.
A um povo que teve a veleidade de afirmar nas urnas a sua rejeição pelas políticas que sacrificam os direitos sociais para garantirem e aumentarem os benefícios ao capital, aos grandes grupos econômicos e ao setor financeiro, há que atemorizar por todos os meios – incluindo o insulto e a humilhação –, não vá o caso repetir-se ou, pior ainda, servir de exemplo a outros.
A mensagem é clara: ou votam "bem" ou vão para o inferno. O que Lagarde não sabe, obliterada pelo seu perfume francês, é que há sempre um ponto em que os "de baixo" já não querem e os "de cima" já não podem.
*Articulista do jornal Avante!, orgão do Partido Comunista Português
A um povo que teve a veleidade de afirmar nas urnas a sua rejeição pelas políticas que sacrificam os direitos sociais para garantirem e aumentarem os benefícios ao capital, aos grandes grupos econômicos e ao setor financeiro, há que atemorizar por todos os meios – incluindo o insulto e a humilhação –, não vá o caso repetir-se ou, pior ainda, servir de exemplo a outros.
A mensagem é clara: ou votam "bem" ou vão para o inferno. O que Lagarde não sabe, obliterada pelo seu perfume francês, é que há sempre um ponto em que os "de baixo" já não querem e os "de cima" já não podem.
*Articulista do jornal Avante!, orgão do Partido Comunista Português
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