sábado, 14 de julho de 2012

Portugal: SOBRE PRESSÃO PARA SAIR RELVAS É INCÓMODO NO GOVERNO



Liliana Valente – i online

Estratégia de defesa passa por associar as pressões à privatização da RTP. Capucho diz que se Relvas tivesse “sentido de Estado” devia “afastar-se”

Nos últimos dois meses não há praticamente dia em que Miguel Relvas não seja notícia. Com três casos polémicos aos ombros são cada vez mais as vozes que pedem para que se demita, evitando contaminar o governo. O incómodo entre a maioria tem crescido, agora com o caso da licenciatura. No governo, no PSD e no CDS a ordem é o silêncio e nem Passos Coelho reafirma publicamente a confiança no ministro, pelo menos com a mesma clareza e insistência com que o fez (por quatro vezes) quando Relvas se viu envolvido nos casos das secretas e das pressões ao “Público”. Entretanto, desenha-se a estratégia de defesa que passa por ligar as notícias de jornais à privatização da RTP.

“É alvo de chacota e isso fragiliza-o. É um incómodo para o governo, agora as circunstâncias determinam que se faça uma valorização política relativa” do caso, diz ao i um colega de governo que pediu o anonimato. Outra fonte da maioria admite “que é um incómodo para o governo e para a coligação” e, numa entrevista à EconómicoTV, Pires de Lima, presidente do Conselho nacional do CDS, admitiu que se um ministro como Relvas “vê a sua reputação afectada pode contaminar directamente a credibilidade ou a reputação de todo o governo”. Há também quem defenda, que os danos na imagem não prejudicam o trabalho do ministro. “É óbvio que um conjunto de notícias negativas afecta a credibilidade, imagem e a auto-estima, mas isso não é a mesma coisa do que afectar a capacidade de trabalho”, diz ao i Pedro Pinto, presidente dos autarcas sociais-democratas.

Culpa da RTP

Para já, a confiança política de Passos Coelho mantém-se. De acordo com uma fonte do executivo, “é difícil Passos abdicar dele [Relvas], até porque, ao aceitar a sua demissão tornava-se permeável a pressões como por exemplo com a privatização da RTP”.

A estratégia de tentar descredibilizar a comunicação social por causa da guerra entre grupos de comunicação social pela compra de um canal da RTP foi ensaiada pelo próprio ministro esta semana no parlamento quando desabafou: “Se eu quisesse que os meus sábados fossem mais tranquilos, parava com o processo de privatização da RTP.” Uma referência indirecta ao semanário “Expresso”. Também Passos, no debate quinzenal do fim de Maio, tinha repudiado “insinuações” de António José Seguro de que Miguel Relvas “não estaria em condições” de assegurar a condução do processo dizendo que o ministro só deixará o “dossiê” RTP caso saia do executivo “por qualquer uma outra razão da sua própria vontade”.

Demita-se

Depois de Marcelo Rebelo de Sousa nos últimos meses criticar a actuação do ministro ao dizer que “é o berbicacho número um do governo” e que perante as dúvidas “demite-se ou é demitido; ou fica como ministro, mas semimorto”, na quinta-feira à noite foi a vez de outro conselheiro de Estado entrar em jogo. Bagão Félix disse anteontem na RTP o que muitos dizem em surdina: “Eu, no lugar do ministro, tinha pedido imediatamente a demissão, facilitando a vida ao primeiro-ministro, que bem merece.” Ao i, o ex-conselheiro de Estado António Capucho concorda: “Sendo ele um amigo do primeiro-ministro, se quer preservar a imagem do governo e tendo sentido de Estado devia tomar a iniciativa e afastar-se”, defende. Capucho acrescenta ainda que se o ministro Miguel Relvas saísse antes de uma remodelação “saía por cima”.

Ontem, o primeiro-ministro preferiu não comentar o assunto, durante uma visita a Paços de Ferreira. Em Maio, perante as notícias da relação entre Relvas e o ex-espião Jorge Silva Carvalho e sobre supostas pressões a uma jornalista do “Público”, Passos atravessou-se pelo ministro por quatro vezes. Disse claramente “sim” à pergunta do PCP sobre se mantinha a confiança política e, no parlamento, fez uma defesa a toda a linha. Sobre a licenciatura, Passos falou apenas a semana passada dizendo que se trata de um “não assunto” e que “quando não tiver confiança num ministro ele deixará de o ser”.

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