José Inácio Werneck*, Bristol - Direto da Redação
Bristol (EUA) -
Amigos, rola na Internet um vídeo de Bill Nye, conhecido durante muitos anos
como “The Science Guy” por causa de um programa de televisão que fazia, com um
apelo patético aos pais americanos: “Precisaremos de seus filhos no futuro. Por
favor, não os ensinem a duvidar da evolução”.
O apelo é dirigido
principalmente aos evangélicos e sua crescente e perniciosa influência. Os
evangélicos sustentam que o mundo foi criado há cerca de seis mil anos,
precisamente como está na Bíblia, com Adão e Eva passeando no Paraíso em
companhia dos animais feitos por Deus, entre eles os dinossauros.
É mais ou menos uma
crença nos moldes daquela história em quadrinhos, Brucutu, em que nosso herói
cavalgava seu fiel dinossauro (como era mesmo o nome dele, Dino?) e namorava a
simpática Ula.
Mas, pasmem, 46 %
de americanos acreditam que o mundo surgiu mesmo como está na Bíblia. Deus fez
Adão, tirou sua costela, fez Eva, Noé levou os bichos para a Arca (os
dinossauros ao que parece chegaram atrasados para o embarque), etc. Esta
história de que o Universo surgiu há 14 bilhões de anos, que a Terra apareceu
há 4,5 bilhões de anos, toda a evidência fóssil e geológica de que estamos
cercados, a evolução das espécies segundo Charles Darwin - tudo isto, para os
evangélicos é mentira, para não dizer pecado.
Ora, o que preocupa
Bill Nye é que tal ignorância acabe prejudicando o futuro dos Estados Unidos
como uma nação que progrediu e progride por causa da qualidade de seu ensino,
de suas universidades, de sua ciência, de suas inovações tecnológicas. Num
momento em que países como a China, a Índia, o Japão e a Rússia investem no
campo científico, Bill Nye teme que novas gerações de americanos mergulhem nas
trevas da ignorância.
Seu medo é bem
fundado. Hoje a maioria dos mais brilhantes alunos de universidades americanas
vem do exterior, sobretudo da Ásia. Alguns ficam nos Estados Unidos, depois de
se formarem, mas a maioria volta para seus países de origem.
Nos Estados Unidos,
enquanto isto, a influência evangélica tem levado um crescente número de
políticos e administradores escolares a introduzirem no currículo estudantil a
tese do “Criacionismo”, a teoria de que o mundo foi feito ao pé da letra como
populações primitivas escreveram ou narraram oralmente há três mil anos ou por
aí e nos chegou em traduções em cima de traduções.
Contra todos os
avanços da ciência, os evangélicos invocam “a palavra de Deus”. Construíram
recentemente o “Creation Museum”, em Kentucky, onde ensinam tudo de acordo com
o Velho Testamento.
Só bradando, como
Castro Alves: “Deus, ó Deus, onde estás que não respondes”?
* É jornalista e
escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados
Unidos. Publicou "Com Esperança no Coração: Os imigrantes brasileiros nos
Estados Unidos", estudo sociológico, e "Sabor de Mar", novela. É
intérprete judicial do Estado de Connecticut. Trabalha na ESPN e na Gazeta
Esportiva.
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