quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Macau: PRAGA DOS SACOS

 


Inês Santinhos Gonçalves - Ponto Final (Macau), opinião
 
Sou pessoa que não gosta de sacos de plástico. Quando posso, evito, levo na mala ou na mão. E claramente vivo numa cidade que não concorda comigo.
 
Há coisas bizarras que se fazem em Macau em nome do desenvolvimento – como as gigantes e constantes edificações, muito chiques e vistosas, que acabam com o traço tradicional da cidade. Outra coisa, arrisco, é o uso abusivo dos sacos de plástico.
 
Enquanto a Europa recua, a bordo de uma consciência ambiental que tanto falta por cá, cobra pelos sacos no supermercado e insiste nos ecopontos e na separação de lixos, Macau segue a lógica do “quanto mais melhor”.
 
Tal como espero que no supermercado me perguntem se tenho 30 avos para facilitar o troco, também espero sempre que me perguntem, quando compro um sumo, se quero um saquinho. Mas a vida não se compadece com as nossas expectativas e o que se passa é que tal como vasculho o porta-moedas e apresento a moedinha com prontidão, também retiro invariavelmente o sumo do saco e digo que não é preciso.
 
Mas o grande paradigma da febre dos sacos de plástico é, para mim, o Café Free, estabelecimento que muito me agrada por ficar em caminho de casa. Imagine-se que desejo cinco croissants. Vou pela rua a imaginar os pequenos-almoços dos próximos dias, com fiambre e queijo, quiçá aquecidos, quiçá tostados. Hmmmm. No entanto, na hora da compra, abate-se sobre mim um remorso ambiental. É que o método inflexível da casa é o seguinte: cada croissant é colocado individualmente num pequeno saquinho de plástico. Isto acontece sejam três, cinco ou dez, não importa. Todos os saquinhos são depois colocados dentro de um saco grande – de plástico, claro.
 
Uma pessoa vai-se embora a emitir aquele som de coisas artificiais e não biodegradáveis. Chega a casa e os croissants já nem têm a mesma graça, é o que vos digo.
 
No dia seguinte, atormentada pelo remorso, levo as minhas garrafas de plástico para o único ecoponto que conheço em Macau – e que suspeito que não passe de um projecto-piloto para testar a adesão da população. Quero redimir-me por todo o plástico que esta cidade produz, mas sou apanhada pela ironia das circunstâncias: quando dou por mim já depositei três garrafas Vitalis vazias dentro do contentor amarelo. A fatalidade é que, em Macau, este destina-se a receber metais, enquanto o castanho é para os plásticos.
 
Nisto abate-se sobre mim uma resignação – se ninguém quer saber do ambiente, porque me hei-de preocupar? Desisto. Aumente-se o consumo, aumente-se o desperdício, quero lá saber, nem sou de cá. Mas quando me preparo para seguir caminho, dou por mim a pensar no quanto gosto desta cidade, mesmo com todos os seus enervantes defeitos. Volto para trás, enfio o braço no pequeno contentor e mudo as garrafas de lugar. Afinal esta também é a minha casa.
 

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