João Lemos Esteves – Expresso, opinião, em Blogues
1. A maior manifestação de sempre desde o 25 de Abril - assim foi a manifestação de sábado que ficará inelutavelmente na história como a "manifestação de 15 de Setembro de 2012". Como a manifestação de um povo revoltado - e já não somente indignado - pelo ciclo da austeridade sem fim. Sem fim e sem justiça. É impressionante: desde o fim do guterrismo que, sucessivamente, temos ouvido falar de austeridade, da imperatividade de "apertar o cinto", da crise, do desemprego, dos sacrifícios absolutamente necessários para reformar o país...Isto tudo, invariavelmente, desde 2001. Passaram-se onze anos desde que a austeridade tomou conta do discurso político português. Onze anos! E cada dia, cada ano que passa, a situação de Portugal é cada vez pior. Por motivos de urgência financeira, a Educação foi sofrendo sucessivos cortes (uns meritórios, outros altamente criticáveis) - mas houve dinheiro para esbanjar em estudos, pareceres, projectos técnicos e até iniciar a construção de infra-estruturas tendo em vista a construção do TGV. O Serviço Nacional de Saúde que apresenta inúmeros problemas que têm de ser resolvidos, mas que constitui uma das conquistas mais nobres da nossa Democracia e tem, apesar de tudo, merecido o elogio de instâncias internacionais de saúde (e não só), é o objecto preferido das críticas da nova "geração de políticos". Já assisti a episódios lamentáveis de pessoas idosas a praticamente serem despachadas de hospitais para poupar tempo e dinheiro. É sempre o mesmo argumento: não há dinheiro para a saúde dos portugueses - mas há sempre dinheiro para dar uma ajudinha aos "coitadinhos" que fizeram milhões praticando ilícitos criminais gravíssimos à frente da gestão do BPN.
1.1. O Estado - ou seja, todos nós, contribuintes - gastou milhões na nacionalização deste banco para depois...vendê-lo a "preço de uva". O Estado praticamente ofereceu o BPN a um banco privado angolano. E lembre-se que a nacionalização do BPN gerou um buraco nas finanças públicas portuguesas que, em boa parte, provocou a catadupa de sacríficos que agora nos exigem. Tudo isto se passa, sem que a Justiça portuguesa tome uma decisão definitiva sobre os arguidos do caso BPN. Parece que os poderosos e ricos são inatacáveis. Parece que o Estado perde toda a sua autoridade quando se trata de atacar poderes instalados mais ou menos difusos. A EDP - agora vendida por Passos Coelho ao Estado chinês - lá vai facturando milhões, mantendo preços que oneram inexplicavelmente os cidadãos portugueses e as empresas portuguesas. Claro que os accionistas da EDP, no final do ano, lá distribuem dividendos chorudos à custa da economia nacional. Fala-se até, a este propósito, em figuras do regime. António Mexia, presidente da EDP, é uma figura do regime - fazendo um jogo de cintura política sem igual, Mexia consegue agradar ao PS, ao PSD e ao CDS. E a sua sedução política estende-se aos chineses (a língua e a diferença de culturas, quer política, quer geográfica, não são obstáculos para Mexia). Os Governos vão passando, mas a crise fica -e António Mexia lá factura mais uns milhões a liderar um empresa que funciona em regime de monopólio, sempre abençoada pelo Estado. São estas figuras de regime que mandam em Portugal. E Passos Coelho, que é tão forte para com os portugueses, para o cidadão comum, é fraco, muito fraquinho quando se trata de atacar interesses instalados - esses sim prejudiciais para o nosso futuro colectivo.
Fim da TSU até sexta-feira
2.O Governo de Passos Coelho tem de tirar rapidamente conclusões da enorme manifestação do passado sábado. Rapidamente e em força. Até ao final da próxima semana, Passos tem de remodelar o Governo - nem que seja apenas trocar Miguel Relvas por Jorge Moreira da Silva ou Luís Marques Mendes. E até sexta-feira, Passos Coelho terá de anunciar ao país que recuou na medida da TSU. Não há tempo para jogos políticos. Se o Governo não reagir até ao final da semana, perde as condições objectivas para continuar no poder. Desenvolveremos este ponto amanhã.
3.Por último, devo dizer que admiro os portugueses que saíram à rua no sábado. Perderam o medo de aparecer publicamente a lutar por ideais e convicções políticas. Perderam a vergonha de gritar que amam Portugal e que querem - sobretudo os mais jovens - trabalhar e viver nesta nossa ditosa Pátria. Nós não queremos sair de Portugal - a Pátria investiu em nós, na nossa educação; nós queremos retribuir colocando o nosso talento ao seu serviço. Porque o nosso sucesso individual, será o sucesso de Portugal - e o sucesso de Portugal será a confirmação do sucesso de cada português.
4. Diz-se que a voz do povo é voz de Deus. Pois bem, na questão da TSU, Deus (o povo) já falou: basta! É preciso recuar. Assim Passos Coelho tenha o bom senso de seguir a voz do povo. Que é voz de Deus.
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