sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Portugal: POLÍCIAS E MILITARES CONTRA A AUSTERIDADE MARCHAR, MARCHAR

 

Rosa Ramos – i online - ontem
 
As associações das forças armadas e forças de segurança ameaçam sair à rua em protesto contra as novas medidas de austeridade
 
Há um ano, o presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS) das Forças Armadas (FA) deixava um aviso ao governo, a propósito das medidas de austeridade que iriam fazer parte do Orçamento do Estado para 2012: os militares ficariam do lado da população. “Que ninguém ouse pensar que as Forças Armadas poderão ser usadas na repressão à convulsão social que estas medidas poderão provocar”, avisou António Lima Coelho.
 
Um ano depois, o presidente da ANS garante que mantém a mesma posição. “Infelizmente, as declarações que fiz na altura mantêm-se actuais. A única diferença é que hoje a situação é ainda mais grave”, considera. De tal forma que a ANS está a preparar uma série de reuniões para “ponderar iniciativas” de luta. Em cima da mesa está ainda a possibilidade de a ANS reunir com as outras associações das FA. António Lima Coelho volta a deixar um aviso: “É fundamental que façamos qualquer coisa. Não serão iniciativas inconsequentes, mas também não serão tímidas”, promete. “Os portugueses continuam a confiar nas Forças Armadas e esperam de nós as respostas próprias para cada momento. Assistimos, hoje, ao que seria impensável numa democracia: o desrespeito pela Constituição”, diz o presidente da ANS, acrescentando: “O mais surpreendente é o silêncio do Presidente da República, que também é o comandante supremo das Forças Armadas.” O coronel Manuel Cracel da Associação de Oficiais das Forças Armadas concorda e acrescenta que se os portugueses saírem à rua os militares não exercerão “qualquer tipo de repressão”. “A obrigação das Forças Armadas é estar do lado da população, a quem juraram defender. Não podemos ter outra postura que não a defesa da democracia”, justifica.
 
Nas forças de segurança o estado de espírito não é muito diferente. Peixoto Rodrigues, do Sindicato Unificado da PSP, recorda que as polícias têm de “defender a liberdade democrática” e garante que o sindicato está a preparar “formas de luta”. “Se os problemas não forem resolvidos iremos para a rua. Estamos claramente do lado dos cidadãos porque antes de ser polícia sou cidadão”, garante. José Alho, da Associação Sócio-Profissional Independente da GNR, vai pedir reuniões a todas as bancadas parlamentares e ao Presidente da República. “Alguém tem de travar estas medidas”, diz. José Alho diz-se preocupado porque as polícias não estão preparadas para lidar com um cenário de grande revolta popular. “Não temos condições materiais para actuar se alguma coisa correr mal, deveríamos estar melhor apetrechados”, avisa.
 
Na PSP, Armando Ferreira, do Sindicato Nacional da Polícia, garante que caso as novas medidas avancem haverá uma “revolta generalizada nas forças de segurança”. “Em média, cada polícia vai perder entre 120 a 200 euros por mês”, quantifica. A Associação Nacional de Sargentos da Guarda vai mais longe e garante que muitos militares da GNR vão participar, à civil, na manifestação de sábado. “Não nos podem impor mais austeridade sem antes resolverem os problemas com que já nos batíamos”, considera José O’Neill. A Associação dos Profissionais da Guarda também está em reuniões para definir acções de protesto. “O ministro não nos recebe e ir para rua, à semelhança da população, é a única forma que teremos para nos fazermos ouvir”, explica César Nogueira. Também a Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, da PSP, admitiu ontem protestar caso o governo não dê resposta “às questões que continuam por resolver”, até porque as novas medidas de austeridade “duplicam” os problemas dos polícias.
 

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