Paulo Gaião – Expresso, opinião, em Blogues
Há um coro grego
que exige que o Presidente da República peça a fiscalização preventiva da
constitucionalidade do OE para 2013 junto do Tribunal Constitucional
Mas o Presidente da
República foi muito claro em Julho passado, logo após o Tribunal Constitucional
"chumbar" os cortes nos subsídios de férias e de Natal da Função
Pública e pensionistas, sobre as razões de não ter pedido a fiscalização
preventiva da constitucionalidade do ... OE para 2012.
Questionado sobre
se estava arrependido de não ter recorrido ao TC, Cavaco ripostou com outra
pergunta. Porque será que nenhum Presidente da República até hoje enviou
previamente um OE para fiscalização do TC
"Por que terá
acontecido ? Talvez porque se um Presidente da República mandasse para o
Tribunal Constitucional para fiscalização preventiva, a declaração de
inconstitucionalidade de uma simples alínea inviabilizaria totalmente o
orçamento. Deixava de haver orçamento", disse Cavaco.
"Independente
do julgamento que possa ter feito em relação ao orçamento para 2012, imagine o
que seria, Portugal, tendo negociado com instituições internacionais um acordo
de assistência financeira, se não tivéssemos orçamento, quando o orçamento é a
peça central da política económica e financeira do país e essa é a razão por que
talvez nunca nenhum Presidente da República pediu fiscalização
preventiva", acrescentou o Presidente da República.
É evidente que pode
defender-se que as condições políticas se alteraram em relação ao ano passado.
Mas o que mudou? A
pressão da rua aumentou bastante. A CGTP e o PCP fortaleceram o seu poder no
combate às políticas de austeridade. O PS rompeu a base miníma de entendimento
com o PSD.
Pedir a
fiscalização preventiva da constitucionalidade do OE significava Cavaco
convergir com estes interesses. Ora Cavaco é um "animal político" que
sabe bem que não pode acentuar uma dinâmica anti-governativa que, à primeira
oportunidade, se viraria contra si.
Por outro lado, não
parece que uma tese calculista de que Cavaco podia assim esvaziar os protestos
contra o OE e o aumento dos impostos faça hoje sentido porque a situação
política é demasiado frágil e imprevisível.
Há outra razão para
Cavaco não enviar o OE para o TC. Ao anunciar solenemente que votava o OE por
patriotismo, Paulo Portas retirou a margem (imaginária) que restava ao
Presidente da República para o fazer.
Cavaco nunca
admitiria ser Portas e não ele o homem mais virtuoso da República.
Ser Portas e não
ele o nosso Catão.
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